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Bruscon diz

(...)
Se formos honestos
não podemos fazer teatro
nem podemos se formos honestos
escrever uma peça de teatro
nem representar uma peça de teatro
se formos honestos
não podemos em absoluto fazer outra coisa
que não seja suicidarmo-nos
como porém não nos suicidamos
porque não nos queremos suicidar
pelo menos até hoje e até este momento não
como portanto até hoje e até este momento não nos suicidámos
continuamos a tentar o teatro
escrevemos para o teatro
e representamos teatro
ainda que tudo isso seja a coisa mais absurda
e a maior das fraudes
Como pode representar o papel de rei
um actor
que não faz sequer uma vaga ideia do que é um rei
como pode representar o papel de moça de estrebaria
uma actriz
que não faz sequer uma vaga ideia do que é uma moça de estrebaria
quando um actor do Nacional representa o papel de um rei
só consegue ser sensaborão
e quando uma actriz do Nacional
representa o papel de moça de estrebaria
só consegue ser ainda mais sensaborona
mas todos os actores continuam sempre a representar algo
que não podem ser
(...)
O que actores representam
está sempre mal representado
chega a ser fraude meu caro amigo
e precisamente por isso é que é teatro
Representação é fraude
e do que nós gostamos é de fraude apresentada em palco
(...)

Thomas Bernhard, O fazedor de teatro. Tradução de Idalina Aguiar Belo.

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