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Um espelho em movimento



A experiência é relativamente simples de descrever. Um personagem vestido de marinheiro deambula à noite por uma cidade - neste caso, o Porto -, carregando às costas uma espécie de máquina de projecção. A máquina projecta um misterioso filme branco, que ondeia e se dissipa no escuro, a partir das costas do personagem.
A experiência de Tiago Madaleno, fixada e dada a ver através de um conjunto de slides, como numa espécie de filme em stop motion, parece remeter para O Homem da Máquina de Filmar, de Dziga Vertov. Mas o que Tiago Madaleno faz nesta obra, Passos, é como que a ideia de Vertov invertida por um espelho.
O que começa em Vertov, termina em Madaleno. Se Vertov capta a realidade pelo olho da câmara (kino-glaz), Madaleno muda a realidade pelo olho do projector. Se Vertov filma um dia em Moscovo, Madaleno projecta a luz de um filme na noite do Porto. Se Vertov posiciona o personagem - Mikhail Kaufman - atrás da máquina de filmar, Madaleno coloca o seu personagem - ele próprio - à frente da máquina de projectar.
Vertov avançou um século até 2017, Madaleno recuou até Moscovo, 1929. Em arte, o tempo e o espaço não existem. O que existe são ideias que atravessam o tempo e o espaço.



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