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Lento rápido

O que vemos em 66 Kinos é uma espécie de road movie através de uma peculiar paisagem de salas de cinema. Philipp Hartmann percorre o espaço e a memória de 66 cinemas, espalhados um pouco por toda a Alemanha. Há histórias simples e outras mais originais, longas e curtas, de resistência e loucura, mas todas têm em comum o amor pelo cinema. Por vezes, a câmara fixa-se no rosto apaixonado dos espectadores antes de uma projecção e é inevitável não vermos ali o nosso rosto.
De todas as histórias, a mais curiosa é a de um empresário cinéfilo que sonha construir um cinema sob um viaduto rodoviário. O homem explica que a sala teria cerca de 60 metros de comprimento, uns 20 de largura e um andar subterrâneo. E enquanto fala e mostra o local vazio, automóveis passam a alta velocidade sobre o viaduto. E é inevitável pensarmos no impressionante contraste entre um mundo que avança a um ritmo impossível de acompanhar e os cinemas que amamos, afundando-se lentamente na sua irremediável e escura imobilidade.
De certa forma, o filme de Hartmann parece um canto de cisne do cinema tradicional. Mas não é. É exactamente o contrário. É uma celebração do poder do cinema: a grande ilusão de que, por um momento, tudo o que existe no mundo é uma imagem viva numa tela.
 

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