Só ontem me apercebi que os campos, as vinhas e o trigo, o céu e as nuvens, as árvores e a terra, o som dos insectos e dos pássaros, a água a correr, tudo isso que vemos e ouvimos na segunda parte de Dalla nube alla resistenza nas deambulações do bastardo por Santo Stefano Belbo — é Nefele sentada no ramo da árvore. Como Olimpia Carlisi avisara, as coisas mudaram no alto dos montes, os homens já não se misturam com as ninfas das nascentes e dos montes, com as filhas do vento, com as deusas da terra ; uma mão mais forte impede esse movimento. A potência da natureza transformou-se numa paisagem— ainda bela e inebriante, porém sem encontros nem diálogos. Mas até essas imagens parecem tão longínquas, vindas de um passado recente (o filme é de 1978) que nos foge — quase arqueológicas? Onde existe ainda aquela terra? Por quanto tempo será viva? Temo que vivamos já depois do último plano do filme, depois da música de Gustav Leonhardt. E as palavras de Pavese revelam-se mais escuras do que
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral