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Dos jornais XXXV

Favaios, 25 de Agosto. Mesmo à borda da estrada, quatro trabalhadores indianos estenderam uma toalha no chão, cada um colocou a sua comida, sentaram-se de pernas cruzadas e almoçaram à sua moda, em conjunto e com as mãos. Ao lado, os trabalhadores portugueses comeram da sua marmita, em separado, uns sentados no muro da vinha, outros no chão. Quem passasse, veria ali naquele descanso de vindima duas culturas bem distintas. Eu vi o mesmo, mas o que me pareceu “diferente” e até triste foi o modo de comer dos portugueses, cada um para seu lado. O modo indiano tinha mais familiaridade: uma toalha estendida no chão com a merenda para ser partilhada era a mesa de antigamente no campo português. (...)

Campo 24 de Agosto

( Minoria )  Quinze ou vinte pessoas, quase só homens, a preparar a manifestação junto ao edifício da junta de freguesia do Bonfim.* Dois cartazes com frases estúpidas.  Seis polícias espalhados aos pares a conversar descontraidamente.   ( Maioria )  Na frutaria, uma fila enorme e pacífica de portugueses e imigrantes.  Imensas tangerinas doces. * Segundo o JN, a manifestação reuniu cerca de 30 pessoas .

Observações avulsas sobre o bonfim #67

Ao chegar ao Batalha por volta das cinco e meia, passaram por mim três homens a falar alto. Um deles disse: então andavam para aí com martelos e ferros e nós havíamos de nos ficar? Foi muito bem feito. Que vão para a terra deles. Parei e fiquei a olhar. Eles saíram de campo e então vi, em frente à Igreja de Santo Ildefonso, os polícias do Corpo de Intervenção destacados para o cortejo da Queima das Fitas.

Mutualismo

Roman, o meu vizinho russo que fugiu da guerra e vive no 4° andar, ofereceu-nos chocolates na Páscoa. Em troca, ofereci-lhe as Memórias Póstumas de Brás Cubas — para ele treinar o português. 

Observações avulsas sobre o bonfim #51

Nas freguesias mais orientais há cada vez mais imigrantes. Cruzo-me com eles no metro e autocarros, supermercados e ruas. Não têm muito dinheiro — nota-se —; são novos e bonitos. É o Porto cosmopolita que não vem nas revistas e o resto da cidade desconhece. Talvez tragam com eles a mudança necessária.