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Ofício

Ontem à noite vi O Discípulo , de Chaitanya Tamhane. Não é um filme sobre a perfeição ou a «excelência», mas sobre a mediania. E isso impressionou-me. Como é que um artista mergulhado até à obsessão na sua arte suporta a evidência de que nunca será excepcional? E estando mais ou menos conscientes disso, o que leva os artistas medíocres ou medianos, que são quase todos, a devorarem-se uns aos outros, como peixes de dentes afiados num lago turvo, movidos pela inveja e o ressentimento? Como escapar a tudo isto? Como ser honesto? Desistir é um acto de coragem ou de cobardia? E ao contrário: um artista verdadeiramente excepcional pode ser imune a concessões, mentiras, mitificações? De onde vêm os raríssimos génios? Que mistério é este?

Escolha

Dois filmes recentes: Martin Eden , de Pietro Marcello, e A verdade , de Hirokazu Kore-eda. Ambos giram em torno de personagens que, de uma maneira ou de outra, trocaram a vida pela arte. Um escritor e uma actriz. Tudo é sacrificado pelo desejo de alcançar uma suposta perfeição artística. Mas, tal como no Fausto , e com a dose certa de moralismo, o preço do sucesso é sempre demasiado elevado: loucura, solidão, autodestruição. No extremo oposto, está o «doutor», personagem do conto O visitante da noite , de B. Traven. Um escritor que vive isolado na floresta tropical e que escreve para um único leitor: ele próprio. Todo o prazer da criação está contido unicamente no acto da escrita: «Sempre que concluía um livro, relia-o, corrigia-o, introduzia-lhe as alterações que julgava essenciais para o tornar perfeito, o mais próximo possível da minha ideia de perfeição, e, feito isto, sentia-me feliz, plenamente preenchido. Logo a seguir destruía o livro...» Escrevi que o «doutor» está no «extr