Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens com a etiqueta Manuel Sá

Assumir os pressupostos da vida não fascista #3

M. D.: Foi tudo filmado entre Trappes e Plaisir, quer dizer, basicamente na capital da imigração em França. Não sei quantos são, talvez um milhão ou dois milhões nesta zona. Todos esses edifícios mortuários que vê foram construídos para eles, são os bancos de ensaio dos arquitectos de Paris. Os franceses fugiram deles. Devo dizer que os portugueses, nos primeiros tempos, também fugiram dos apartamentos que lhes destinámos, para voltarem às suas caravanas e aos seus bairros de lata, porque nos seus bairros de lata estavam juntos, à noite podiam comer juntos, reunirem-se. Havia uma verdadeira comunidade nos bairros de lata. Foi destruída. Foi substituída por esses blocos que vê no filme, esses fabulosos amontoados de alojamentos. Em vez de uma caravana, agora há entre sete e doze casas sobrepostas. Em Pequim é a mesma coisa, no México, em Madrid. Eu prefiro os bairros de lata, sem água, sem conforto, mesmo que faça muito calor, prefiro. O Camião seguido de entrevista com Michelle Porte,...

Assumir os pressupostos da vida não fascista #2

Voz off de M. D.  Ela teria apontado para o mar  [ Pausa .]  Ela diz: veja, o fim do mundo.  A toda a hora  A cada segundo.  Por toda a parte.  Espalha-se.  Ela diz: é melhor, sim.  É tão difícil... tão... tão duro... tão...  É melhor assim. É o melhor.  Não valia a pena, é o que eu acho...  [ Pausa .]  Ela diz: antes, já havia mar, aqui,  Além, veja.  Além.  [ Pausa .]  Ele diz: mas de que é que está a falar? Ela diz: eu falo.  [ Pausa .]  Ela canta.  Ela fecha os olhos e canta. O Camião seguido de entrevista com Michelle Porte,  de   Marguerite Duras. BCF editores, maio de 2025. [Apresentação do livro no próximo sábado, dia 19, às 18h00, na Térmita. Com Eduardo Calheiros Figueiredo e Manuel Sá.]

Assumir os pressupostos da vida não fascista #1

G. D. Ela fala? M. D. Sim, ela vai falar. G. D. [ Pausa .] Quem é ela? M. D. Uma desqualificada [ Pausa .] Está a ver? G. D. Sim [ Pausa .] M. D. O único elemento em comum entre eles é uma certa violência no olhar. Face a esse vazio diante deles, o Inverno nu, o mar. [ Pausa .] O silêncio no início do filme teria representado a primeira relação entre as personagens. Relação distante, quase indiferente, maquinal. Teria sido uma espécie de estabelecimento de uma relação por vir. G. D. Essa relação vai acontecer? M. D. [ Pausa .] Talvez nunca. G. D. [ Pausa .] O que é que acha? M. D. [ Pausa .] Nunca. O Camião seguido de entrevista com Michelle Porte,  de   Marguerite Duras. BCF editores, maio de 2025. [Apresentação do livro no próximo sábado, dia 19, às 18h00, na Térmita. Com Eduardo Calheiros Figueiredo e Manuel Sá.]