Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de julho, 2024
Quando percebi que partilhavam o título, fiz uma pesquisa, mas só encontrei uma relação ténue entre As Filhas do Fogo de Gerárd de Nerval e as de Pedro Costa. As ligações a Rivette são mais evidentes; por isso e porque gosto de me meter por caminhos secundários, resgatei o livro do armazém — sabe-se lá onde vamos dar. Por sorte, é um daqueles livrinhos bonitos da estampa com papel azul e capa negra (de março de 1997), traduzido pela magnânima-e-sempre-viva Luiza Neto Jorge. Custou três euros e vinte cêntimos, deve ser mais ou menos o equivalente a café e umas águas na esplanada.

Comunidade

Deixámos a janela aberta durante a noite para refrescar o quarto. Automóveis, gaivotas, bandos de turistas ébrios e os dois cães da vizinha bateram as asas e vieram deitar-se connosco. A velha comunidade, a minha tão bem conhecida comunidade das noites sem dormir.

Andar para trás (pas ta physique)

Na altura não anotei e agora corro o risco de me enganar. Quando encontrar o Saguenail, tenho de confirmar se a história é mesmo assim.  A situação é esta (estou a dormir ou acordada?): corro, corro, mas não consigo apanhar o autocarro. Lá vai ele, cheio de pressa e eu apeada. O que é que faço? Ora bem, segundo a lógica ou fico parada à espera do próximo ou vou indo para a paragem seguinte. Mas a patafísica (consciente? inconsciente? com ou sem apóstrofo? Tu não tens irmão e ele gosta de queijo . Sem dúvida!) diz que tenho outra hipótese muito mais interessante: ir para trás, para a paragem anterior. Os argumentos a favor desta inversão são claros: não me aborreço, apanho o autocarro mais cedo e mais vazio, e prego uma partida aos parâmetros de vida que nos impingem — o caminho nem sempre é em frente.

Ver o futuro

Sucedeu que, um dia, Júpiter, diz-se, relaxado pelo néctar, pusera de lado os seus graves cuidados e brincava, brejeiro, com Juno, também ela ociosa: “O prazer sexual é para vós, sem dúvida, muito superior ao que cabe aos homens”, dissera. Ela recusa tal ideia. Acordam então averiguar qual a opinião do douto Tirésias. É que este conhecia os dois lados do amor. De facto, em certa ocasião, sovara duas enormes serpentes, que acasalavam na erva verdejante, a golpes do seu bastão. De homem convertera-se em mulher (espantoso!), e passara sete Outonos assim. Ao oitavo, viu de novo aquelas serpentes. “Se tão grande é o poder da pancada com que vos feri”, disse, “a ponto de mudar no contrário o sexo de quem vos golpeou, bater-vos-ei também agora.” Golpeando as mesmas serpentes, retornou à forma primitiva e a figura com que nascera voltou. Ele é, pois, o mediador nomeado para este litígio brincalhão. Dá razão às palavras de Júpiter. A filha de Saturno, diz-se, ficou magoada, mais do que seria ju

Quarteto de cordas (no meio do Atlântico)

Escrevi um texto para os Encontros de Cinema do Fundão em que me aproximo dos filmes de Huillet, Straub, Godard e Costa através da música. Os textos que escrevo não são términos, ficam sempre a meio do caminho para outra coisa; e agora que ando a ler o livro de Jacques Rancière sobre (os quartos de) Pedro Costa, principalmente nas conversas com Cyril Neyrat, percebi que mais do que leviandade ou teimosia, o meu gesto tinha um desígnio escondido.  Na verdade, fiz o que fiz também para evitar um olhar demasiado preso às imagens e significados. Pedro Costa é bom, é mesmo muito bom, a construir imagens simultaneamente perturbadoras e belas e eu queria libertar um pouco os seus filmes de tanta interpretação estética. Porque nós somos assim: mal vemos uma imagem, parecemos polícias ou psicanalistas, levantamos um inquérito e queremos saber o que é que ela significa. As garrafas verdes cheias de pó junto à janela passam a ser una natureza morta (ou um plano-almofada?) que é preciso dissecar
Austerlitz , de W.G. Sebald , traduzido (e bem) por António Sousa Ribeiro. Até dei um salto de alegria.

Ossos

Amanhã, no AXN Movies, às 21H10, entre Assalto em Wall Street e Pura Liberdade .  (... If you’re this lucky, you’re hooked for life . )

A vida no campo e na cidade no século XXI

Numa loja do minipreço do Porto, o ar condicionado está avariado há dez dias. Esta semana, com a onda de calor que temos vivido, as temperaturas chegaram aos 42º dentro do minimercado. Com apenas uma porta que dá para o exterior, falta ventilação e trabalha-se numa estufa insuportável. Aparentemente, não será caso único na mesma cadeia. Mas dá que pensar: pode alguém ser obrigado a continuar a trabalhar nestas condições?
Les troupes d'occupation s'inquiètent d'un mutisme qu'elles ont elles-memes engendré; on devine une insaisissable volonté de silence, un secret tournant, omniprésent; les riches se sentent traqués au milieu des pauvres qui se taisent; embarrasses de leur propre puissance, les «forces de l'ordre» ne peuvent rien opposer aux guérillas, sinon le ratissage et les expéditions de représailles, rien au terrorisme, sinon la terreur. Quelque chose esta caché en tout lieu et par tous; il faut faire parler .  La torture est une vaine furie, née de la peur : on veut arracher d’un gosier, au milieu des cris et des vomissements de sang, le secret de tous . Inutile violence : que la victime parle ou qu’elle meure sous les coups, l’innombrable secret est ailleurs, hors de portée; le bourreau se change en Sisyphe : il applique la question, il lui faudra recommencer toujours.  Même silence, pourtant, même cette peur, même ces dangers toujours invisibles et toujours présents ne peuve

Botas

O sol e a chuva esbateram as cores do outdoor do partido de extrema-direita. O líder está pálido, envelhecido, quase cinzento. Com as enfermidades da idade, resta-lhe o grande ideal: arranjar um par de botas de pelica.

A trombeta de Gabriel

Num dos textos que escreveu para o Curso de Crítica de Cinema do Batalha , Inês Sapeta Dias fala de programação como se fosse (também) um tipo de montagem que manobra, não ao nível dos planos e das sequências, mas na justaposição de filmes — uma espécie de movimento macroscópico. Apesar de exterior, trata-se de um gesto extremamente poderoso que qualquer um (?) pode fazer desde que se afaste um pouco (quem explica bem este grau de medida incerto-mas-importantíssimo é Agamben). Mesmo quando se trata de uma carta aberta para enquadramento das suas próprias obras, os cineastas agem como alguém que vê de fora, como um programador que acredita que é possível estabelecer diálogo entre trabalhos diversos e que esse diálogo pode alterar o modo como daí para a frente passamos a ver esses filmes e que isso também é cinema. Inês refere que passou a pensar nos filmes de Jean-Claude Rousseau de outra forma depois de os ter visto ao lado d' O Anjo Exterminador : apesar de nos darmos con
 

Observações avulsas sobre o bonfim #69

No outdoor do PSD no Campo 24 de Agosto, lê-se em palavras destacadas: pessoas [no] bom caminho . Parece o paleio das igrejas que vendem a salvação a prestações.  Prefiro o revés, prefiro a sabedoria louca da mulher do camião: Que-le-monde-aille-à-sa-perte-c’est-la-seule-politique...

Má vontade

É lamentável a forma ostensivamente cínica, e até cruel, como os líderes do Partido Democrata norte-americano têm ignorado as propostas dos comentadores, especialistas e politólogos portugueses para resolver o problema da sucessão de Joe Biden.

Uma óptima ideia

«Naquela altura tinha um contrato com a Svensk Filmndustri para começar as rodagens de um filme, em Junho. Tratava-se de uma fantochada que teria por título  Os Canibais . Já em fins de Março compreendera que me seria impossível realizar este filme, por isso propus à companhia que fizéssemos um filme  pequeno , só com duas mulheres. À pergunta muito cortês do director sobre o tema do filme dei uma resposta um tanto evasiva. Iria tratar de duas mulheres ainda novas que, sentadas numa praia e com chapéus enormes na cabeça, se entretêm a comparar as mãos uma da outra. O director não fez comentários. Disse-me apenas, entusiasmado, que era uma óptima ideia.» Ingmar Bergman, Lanterna Mágica . Tradução de Alexandre Pastor.

Quelque chose entre

Como uma godardiana sindicalizada, preparei-me para a sessão e, em vez de dupla, foi uma santa trindade: Une bonne à tout faire  (em casa) , Passion e Scénario du film Passion  (em Serralves) . — Est-ce que la vie n’a pas à voir avec cette Sainte Trinité : l’amour le travail et quelque chose entre les deux ?  E ainda, em vez de apresentações e moderações institucionais   (porque é que esta gente tem sempre o aspecto de terem  « comprado tudo o que havia de Ludwig Wittgenstein, para se ocuparem de Ludwig  Wittgenstein  nos próximos tempos» ?) , ideias vagas, as imagens reais antes das histórias: o avião em linha oblíqua sobre o jardim, os gritos das pegas rabudas, a menina da limpeza a subir as escadas com esfregonas e um balde azul, a menina da bilheteira a fazer jogos comigo, o portão fechado à saída. Basta traçar um risco.  C’est ça, la passion pour Godard .

O teatro clássico, revisto e aumentado

Uma estátua do deus Hermes, do século II, foi encontrada no esgoto de uma antiga cidade da Bulgária. Os arqueólogos acham que a estátua terá sido ali escondida, por volta do século V, para a proteger dos cristãos . Salvar um deus do Olimpo, filho de Zeus, escondendo-o no esgoto — emparedado como Antígona, mas por amor e não por vingança —, é uma ideia espantosa. Digna do grande teatro grego. 
Silêncio .  Ela teria dito: tenho a cabeça cheia de vertigens e gritos.  Cheia de vento.  Então, às vezes, por exemplo, escrevo. Páginas, está a ver.  ( Pausa .)  Ou então durmo.  Fim da música. Silêncio. O Camião,  de   Marguerite Duras.

Entre um corpo e a sua sombra

As palavras extraordinárias de Anne Carson sobre o trabalho de tradução: «A translator is someone trying to get in between a body and its shadow. Translating is a task of imitation that faces in two directions at once, for it must line itself up with the solid body of the original text and at the same time with the shadow of that text where it falls across another language. Shadows fall and move.»

Esculpir o tempo

Neste plano de Solaris , vê-se uma escultura de Rui Chafes (misturada com os ramos da árvore, atrás de Kris Kelvin).

Estética

Ao lado de minha casa, abriu mais um Centro de Estética. Entre a Arca D'Água e a Rua Damião de Góis, há pelo menos uma dezena.  No futuro, ninguém poderá estudar as grandes correntes estéticas do século XXI sem passar pela minha rua.

Dos jornais I

As autoras do estudo Como Comemos o que Comemos – Um Retrato do Consumo de Refeições em Portugal , criaram quatro grupos (não sei porquê, preferem dizer  clusters ) para explicar como nos alimentamos: gregárias emancipadas, caseiras remediadas, profissionais diligentes, universitários desengajados.  As designações são extraordinárias, mas podiam ter ido mais longe na definição — por exemplo, universitários desengajados podia ser universitários   sem gajo/gaja . • • • Parece que precisamos de Boris Vian para resolver este imbróglio das estações à esquerda . Não é difícil, basta inverter a marcha dos autocarros — uma nova acepção de negativos e uma nova maneira de encarar o trânsito urbano.

Uma história próxima, que corre a passos precipitados.

A História está cheia de episódios caricatos. A vitória de Trump graças ao atentado de ontem é apenas mais um.  Agora os democratas precisavam de uma audácia de fera encurralada, mas desconfio que não conhecem nenhuma dessas três palavras. 

Um elegante fato vermelho Carolina Herrera

«Era meio-dia em ponto quando entrou pelos portões do Palácio de Belém, escoltada pela guarda de cavalaria da Guarda Nacional Republicana ─ o ministro dos Assuntos Exteriores, União Europeia e Cooperação de Espanha, José Manuel Albares, também a esperava. Leonor elegeu para esta visita um elegante fato vermelho Carolina Herrera, uma opção que homenageia as cores de ambas as nações. Marcelo Rebelo de Sousa recebeu-a à saída do carro e acompanhou-a, com vários toques no braço, até ao palanque onde ambos ouviram os hinos nacionais ─ primeiro a Marcha Real, ou não fosse Leonor a convidada. Feitas as honras militares, Leonor seguiu segura até ao interior do Palácio de Belém, enquanto trocava algumas palavras com Marcelo Rebelo de Sousa. Posaram para fotografias e seguiram para a Sala das Bicas, onde o Presidente procedeu à condecoração, enquanto a princesa sorria timidamente. No encontro que se seguiu nos minutos seguintes, Marcelo e Leonor falaram em privado.» Artigo do jornal Público , as

A iniciativa liberal

Foi hoje divulgado o chamado «ranking das escolas». O outro nome para este «ranking» é: campanha publicitária promovida pelo Estado a favor dos colégios e escolas privadas. A mais grotesca, asquerosa e despudorada das campanhas publicitárias. Mais uma vez, as empresas de ensino privado não precisaram de pagar um cêntimo por este anúncio difundido em todas as televisões, rádios, jornais e internet. O sonho molhado de qualquer «empreendedor»: uma campanha milionária anual patrocinada pelo Estado.
(...) Ora, para concluir e regressando às paragens de metrobus , Rui Moreira preferiria umas “coisas levezinhas, envidraçadas”, quase invisíveis, para não perturbar as vistas idílicas da burguesia local. Ora, talvez me aventurasse a dizer que, para Álvaro Siza, que conserva ainda um sentido profundo e social daquilo que é fazer uma cidade — ao contrário do autarca portuense —, as paragens desenhadas em betão correspondem precisamente ao gesto arquitectónico de procurar marcar e tornar visível no espaço urbano aquilo a que a classe a que Rui Moreira pertence tende a não aceitar: o facto de a cidade não ser apenas a sua propriedade exclusiva, mas de todos. Nada há de mais social e definidor do território urbano do que esses pequenos equipamentos públicos tantas vezes desqualificados (inclusive pela própria CMP). São estes, na verdade, os grandes monumentos da vida quotidiana das cidades e dos seus moradores; e não certamente as vivendas privadas endinheiradas e kitsch da Avenida do Ma

Os bons fotógrafos dançam

Enquanto esperava pelas Três Irmãs , de Tchékhov, que estavam guardadas no depósito 2 da Biblioteca, sentei-me num sofá a folhear a Electra do verão do ano passado. A revista publica sempre artigos inteligentes que têm de ser lidos na íntegra e com muita atenção, mas as entrevistas atraem de outra forma espacial — já não estamos fechados num gabinete ou auditório, as janelas são tão grandes e estão tão abertas que parece mesmo que estamos na rua ao ar livre. A conversa entre André Príncipe, José Pedro Cortes e Bernard Plossu é desse tipo.  Lembro-me de muitas fotografias de Plossu — dos Encontros de Coimbra ou do Centro de Fotografia do Porto — e batem certo com o que ele afirma: «E é verdade, os bons fotógrafos dançam. E, provavelmente, a arte mais próxima da fotografia não é o cinema nem a literatura, é a dança. Um bom fotógrafo é gracioso.»  A determinada altura, isso decorei, Plossu lembra que Édouard Boubat dizia que image e magie tem as mesmas letras.

Influenciadores do século XX

Good Vibrations

Ontem, a sala grande do Batalha cheia para ver Sayat Nova,  de Sergei Parajanov, parecia uma representação interior do que se passava nas ruas de Paris.

É potável, não é?

Esplanada de um jardim no centro de Lisboa. Domingo de manhã. A maioria das pessoas à nossa volta tem cães. Bichos de todas as raças e feitios. Tanto quanto percebo, não há um único rafeiro. Não ladram, não rosnam, não se aproximam uns dos outros. Bonecos de peluche, tristes e mudos. Sem vida. Uma mulher com um bebedouro pergunta ao empregado: «Pode encher com água? Pode ser da torneira. É potável, não é?»

Juste une image

Em 1976, as pessoas de Trás-os-Montes não gostaram da cena da neve. Acharam que os denegria, que não correspondia à realidade, que ninguém é tão pobre que coma neve.  A própria Margarida tinha algumas reservas: Essa ideia foi mesmo do António. Significava uma pobreza extrema. E claro que a neve não alimenta. Eu ai pus uma certa reserva. A neve é bonita mas não alimenta. E também não era neve... É qualquer coisa da produção, uma espécie de espuma... Eu aí reagi um bocado. Primeiro porque não alimenta. Segundo porque não era verdade... Pus uma certa reserva. Mas a única reserva que ponho actualmente é a lentidão. Dura muito. A duração dessa plano devia ter sido encurtado .  Mas a força da cena vem precisamente da sua profundidade e da sua  duração ; quando vemos a neve (apanhada, servida, comida) paramos e temos tempo para compreender o que é a pobreza e, se dermos um passo atrás, o que é uma imagem.  Há palavras de Kafka em Trás-os-Montes , mas esta imagem — destemidamente livre — podi

Sagen Sie’s den Steinen

Apetece brincar à cama de gato e pegar nas linhas éticas/estéticas com que o Luis Miguel Oliveira juntou Trás-os-Montes , No Quarto de Vanda e Sicília! e, seguindo a minha pancada por pedras, mudar a forma para: Trás-os-Montes , The Searchers , Antígona . — Rui! Rui! Que pedra é esta?  — É a pedra do raio! Quando há trovoada muito forte, cai o raio, entra pelo chão adentro…então fica lá uma pedra muito pesada e muito escura!

Um dia isto vai ser importante

Descobri que o Luís de Trás-os-Montes (que tem mais ou menos a minha idade) dá aulas na escola do quarteirão onde vivo. Se calhar já nos cruzamos na rua, no multibanco ou no Lidl. Diz ele: — O António era de um carinho, de uma simpatia transbordantes. E a Margarida também. Eu tinha perdido a mãe há meses e tivemos uma relação muito especial. Eu estava sempre abraçado a ela, de mão dada, ela oferecia-me imensas coisas. O António era mais reflexivo, falava só quando tinha alguma coisa importante para dizer. A Margarida era mais espontânea, mais rápida. Mas as coisas que o António dizia ficavam sempre na nossa cabeça. Funcionavam muito bem os dois. Nas refeições, eu sentava-me à beira deles, começavam a falar de Proust e acabavam em Stockhausen. O António dizia: "Presta atenção, porque agora não vais perceber nada, mas um dia isto vai ser importante." Às vezes eu apontava. Depois chegava a casa e perguntava: "Quem é este, e aquele?" Falavam, falavam, a Margarida escrev

Influenciadores do século XX

— Trás-os-Montes é um documentário?  — Não! Claro que não! Chamaram-lhe muito isso. O António não gostava nada. Um documentário para mim, na minha definição, é ficção o mais próxima da realidade que exista, mas “ficção” na cabeça de quem faz. Trás-os-Montes não! Muito daquilo é sonhado, muito daquilo não era verdade... Na altura mesmo! A ficção pura é isso, é juntar varias coisas. Tanto dá que tenha sentimentos humanos como não. É o juntar de formas. Isso é ficção pura.  (...) — Algumas críticas apontam o Trás-os-Montes como um panfleto político? Vê o filme como tal?  — Tudo é político! Não há nada que não seja político... Político quer dizer da cidade, da comunidade. E por isso [ Trás-os-Montes ] é político, claro. O filme não era uma brincadeira. Mostrava que há pessoas na extrema miséria. Mas que são belas, num país que pode ser muito belo. Nós tentamos dizer isso, não percebem?  Entrevista de Pedro Branco a Margarida Martins Cordeiro realizada presencialmente em Mogadouro, Distr

As características que era preciso

«Ainda não temos nenhum milagre. Temos algumas graças que já estão a chegar e chegam algumas muito interessantes. Um ou outro caso já apresentei, mas a Santa Sé disse que não tinha assim as características que era preciso.»

Influenciadores do século XX

 

Longe da capital, longe da lei.

Sem mais nem menos, a menina da bilheteira decidiu fazer-me o desconto jovem. À primeira vista, foi um capricho anti-burocrático que se transformou logo em gag cómico. Depois percebi que não teve nada a ver com a idade. Ela deu-me o bilhete justo para ver Trás-os-Montes . Com aquele bilhete entrei na sala como se fosse em cima do cavalo Pensamento.