Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de dezembro, 2025

Costumávamos ter medo do patrão

 «Eu não quero cá o patrão. Para me explorar, não quero cá o patrão. Assim estou mais feliz. Ele que não venha que não me faz falta, nem a mim nem às minhas colegas, porque eu agora ganho quatro contos e trabalho, mas no tempo do patrão trabalhava o dobro e ganhava só um conto e oitocentos por mês, por isso eu não quero cá o patrão. Não quero!» Outro País, de Sérgio Tréfaut.

Apagão

Leio no jornal que a «palavra do ano» é Apagão . Pela primeira vez, a vulgar acção publicitária da Porto Editora coincide – ainda que de forma involuntária – com o verdadeiro carácter da nossa época. Este é, de facto, o tempo do apagão. O apagão da história, dos factos, da dignidade, da empatia, da humanidade. Em breve, pouco restará que não tenha sido já apagado. Só a electricidade continuará a correr pelos fios, dentro das paredes.
Geppeto#21

Fracasso

Leio Nelson Rodrigues e tropeço numa passagem tipicamente  walseriana : «Estava diante do espelho, fazendo a barba, e pensava: “Dane-se a posteridade. Não faz mal que eu seja esquecido.” Mais um pouco e digo para mim mesmo: “Quero ser esquecido.” Naquele momento, eu percebia, com implacável lucidez, que essa disposição era vital. Tinha que receber o fracasso com desesperada alegria suicida. Um dia, o Paulo Francis veio me entrevistar. Dei as minhas respostas por escrito; e terminava assim: “Quero ser esquecido para sempre.”»  ( Memórias: A Menina Sem Estrela , p. 276.) A ideia de fracasso, de auto-apagamento, não é um simples capricho literário, mas um projecto de resistência «vital». Para alguns, é a única maneira de conservar a fúria de viver e escrever.