Alberto Pagán: As representações em Contactos são muito recitativas, frias e anti-psicológicas. Isso deveu-se a limitações das filmagens ou foi uma estética brechtiana intencional?
Paulino Viota: Acho que faz parte do estilo. Num esquema de tempos mortos e rupturas, se tentássemos uma interpretação mais natural, mais directa, provavelmente teria ficado demasiado desajustada com o estilo da câmara. Pensei que era mais coerente assim, uma espécie de teatralização, num sentido de ascetismo, claro; não no sentido de multiplicar a expressão, mas precisamente ao contrário. É a ideia de conter a expressão, de não expressar. Acho que provavelmente já tínhamos visto algum filme de [Robert] Bresson [A TVE passou Pickpocket (O carteirista, 1959) a 2-12-1967 e Les anges du péché (Os anjos do pecado, 1943) a 23-03-1970] e tínhamos visto, de certeza, a Crónica de Anna Magdalena Bach [Cronik der Anna Magdalena Bach, 1967] de [Jean-Marie] Straub [e Danièle Huillet; transmitida pela TVE a 6-09-1969]. E também, por puro acaso, dois ou três filmes de [Yasujiro] Ozu, porque fizeram um ciclo na Televisão Espanhola. Eram filmes a cores, mas passaram a preto e branco pois nessa altura a televisão era a preto e branco. Isso foi em abril e foi a última coisa que vi antes de fazer o filme. [A TVE passou A flor do equinócio (Higanbana, 1958) a 11 de março; O fim do Outono (Akibiyori, 1960) a 18 de março e Crepúsculo em Tóquio (Tokyo boshoku, 1957) a 1 de abril de 1970. Este último é originalmente a preto e branco. A TVE começou a emitir regularmente a cores em 1972.] Ozu tinha um sentido do espaço e do tempo absolutamente geométrico e exacto, como Mondrian. Ver que se podia fazer cinema assim impressionou-me imenso. Acho que esses dois ou três filmes de Ozu foram o elemento que faltava para completar a ideia de fazer um filme absolutamente sóbrio, desdramatizado e inexpressivo ou anti-expressivo.
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