Talvez por já conhecer alguns planos de cor, ou pela proximidade às Filhas do Fogo, ou por causa do restauro, a sessão de ontem de Ossos foi uma revelação sonora. Ouvi tudo como se estivesse dentro de água: cães a ladrar, pessoas a falar na rua, o gás aberto (para matar ou aquecer o leite), carros a passar, portas a bater, discussões, música para dançar, a telenovela numa casa ao lado (as paredes do bairro parecem feitas de papel), alguém a acender o isqueiro uma e outra vez, os ruídos instáveis do interior dos autocarros, a chave a rodar na fechadura da casa da enfermeira Eduarda.
Apesar de uma primeira e mais evidente ligação pelas imagens (não por acaso, Emmanuel Machuel foi o director de fotografia de L'Argent), talvez a ligação mais íntima de Ossos a Bresson seja pelo som.
Estas notas postas em acção:
«É preciso que os ruídos se tornem música.»
«Valor rítmico de um ruído
Ruído de uma porta que se abre e se fecha, ruído de passos, etc., pela necessidade do ritmo.»
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