Ontem, por volta do meio-dia, em frente ao mar de Vila Chã, percebi um pouco melhor a estrutura interna d’ As Filhas do Fogo. A maré estava baixa e as ondas rebentavam suave e intercaladamente na areia em três pontos (e às vezes num quarto mais afastado e mais grave). Fechei os olhos.
O diálogo passava de um lado para o outro e para o outro e assim sucessivamente. É um som eterno, persistente como uma marcha. Nota contra nota. Uma mulher que espreita, uma mulher que se levanta, uma mulher que caminha: Karyna Gomes, Alice Costa, Elizabeth Pinard. Três corpos num movimento colectivo.
Quando tudo colapsa, nesse dia feio que se arrasta há séculos — é essa força de resposta que temos de reencontrar: qualquer coisa que trabalha nos intervalos; um movimento mútuo de não aceitação do destino; a teimosia do povo de Chã das Caldeiras (uma lição). Ah, se a música conseguir ajudar-nos a transformar o sofrimento em alegria, como dizia Olga. Se conseguirmos um dia desemaranhar a nossa vida.
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