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Mensagens

Ainda agora começou e já foi há tanto tempo

Em meados dos anos 80, o Porto era uma cidade cercada. Não pelo exterior, mas a partir de dentro. A sensação era a de que se vivia afastado de tudo o que de importante estava a acontecer no mundo. O que chegava de fora não era suficiente para aplacar a nossa fome. A rádio, a televisão e os jornais, que para os padrões de hoje pareceriam radicalmente alternativos, representavam o tipo de cultura e informação que era necessário rejeitar. Dentro de muros, a resistência, como sempre, fazia o seu obscuro caminho. Fanzines, plaquetes e boletins, circulavam de mão em mão, nos cafés, nas lojas de discos, nas associações de estudantes e colectividades, numa espécie de samizdat legal. Desenhadas à mão, escritas à máquina, reproduzidas em lojas de fotocópias, em formato A4 ou A5, com mais ou menos páginas, quase sempre a preto-e-branco, as publicações alternativas da época seguiam a estética mais simples do DIY. Edições sobre música, cinema, literatura, filosofia, política e outros temas impos

Um berlinde azul sem defeitos

Quando estava a ler a carta que Buddy Glass escreveu a Zooey, passaram-me tantas coisas pela cabeça e tão depressa que só dificilmente consegui agarrar duas ideias e um título. 1. A ligação das crianças Glass ao Ernesto do filme Les Enfants , de Marguerite Duras. Em termos literários não podiam estar mais afastados: a língua, a entoação das palavras, o ritmo dos corpos (vejo sempre as crianças Glass a fazer acrobacias, e Ernesto e a irmã encostados a uma parede ou a uma janela), os próprios gestos. E, no entanto, passaram pela mesma experiência. Não quero nem posso descrever essa experiência, porque qualquer tentativa seria apenas uma caricatura. Tomo o partido de Tatiana Moukhine quando diz que compreende o filho em silêncio. Imagino-a até, por encadeamento de imagens, naquele filme de Rivette, na roulote, no jardim, a dizer isso. (Ah, se a conhecesse, aposto que Seymour escreveria um haiku triplo martini em russo.) 2. A impossibilidade de dar a palavra directa a Seymour. É por i

Uma coisa curiosa

«Agora começo a compreender o elevado número de espectadores que gosta de ir gratuitamente ao teatro, e isto em Moscovo», pensava comigo. «E torna-se uma coisa curiosa: ninguém pede para andar de graça no comboio. Nenhuma dessas pessoas vai à loja e pede que lhe ofereçam, por exemplo, um quilo de sardinhas. Então, porque é que no teatro não se deve também pagar?» Mikail Bulgakov, Romance teatral . Tradução de Serafim Ferreira.

FLOP

Chegou a editora Flop A Flop é um projecto de Adriana Oliveira, Carolina Lapa, Tamina Šop, Luis Nobre e meu. O volume inaugural é uma antologia de contos de Daniil Kharms (ou Harms, depende das versões), intitulado "Três horas esquerdas", com tradução e apresentação de Júlio Henriques, e que serviu de base a uma encenação com o mesmo título da companhia Marionet , realizada em 2001. Para efectuar a pré-compra de "Três horas esquerdas", de Daniil Kharms, basta fazer uma transferência bancária no valor de 6€ para o NIB 0043 0001 0400 1032 3455 9 (Rui Manuel Portela Amaral) e enviar um e-mail para floplivros@gmail.com com o comprovativo de transferência. Todos os leitores que participarem na campanha de pré-compra serão co-editores da obra e o seu nome (ou o nome que indicarem) constará na lista de co-editores. Mais informações sobre o nosso primeiro livro e a editora Flop aqui  e também aqui : A publicação de "Três horas esquerdas", de Daniil Kha

Conhecer um bom dióspiro

Decidi reler os livros de Salinger. Ignorei a ordem cronológica e comecei pelo fim (quase fim , para ser exacta): uma edição antiga da Quetzal de "Carpinteiros, Levantai Alto o Pau de Fileira" (1955) e "Seymour (Uma Introdução)" (1959). Apesar da má tradução de Bertha Mendes, "Carpinteiros, Levantai Alto o Pau de Fileira" continua a ser um divertimento maravilhoso; parece uma peça musical de Satie com guarda-chuva aberto para dia de sol e chuva. A viagem de táxi que Buddy partilha com quatro convidados do casamento malogrado de Seymour tem um acentuado efeito ora excitante, ora calmante, e o tio do pai de Muriel surdo-mudo é uma personagem menor enorme. Mas a surpresa foi o segundo texto; já não me lembrava da trama (percebe-se porquê) e na altura não me dei conta da estrutura, melhor dizendo, da formidável falha da estrutura. Buddy Glass tem quarenta anos, é escritor e professor, vive bem no interior do bosque e na parte mais inacessível da montanh
Sábado, 17 de Dezembro, a  ªSede recebe a Livraria Snob para o Natal dos Intelectuais . Uma venda de livros com desconto, seleccionados por Duarte Pereira, o livreiro mais criterioso da Península Ibérica. Contamos com todos na Rua de Santa Catarina, 787, no Porto, ou em:  Site | Facebook.