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A influência de Philip Larkin nos tempos de espera

Depois da observação geográfica desci as escadas e, enquanto esperava pela minha vez (mais 40 minutos) reparei num homem de meia-idade, nem magro nem gordo, um pouco mais baixo do que eu, vestido de escuro (calças cinzentas, corte recto; camisa cinzenta fechada até cima; casaco azul acinzentado com cotoveleiras de camurça e dois botões claros abotoados), com óculos de massa rectangulares e um saco de papel nas mãos. Um homem de ofício burocrático ou então um poeta muito parecido com Larkin. Decidi que era as duas coisas. A partir daí pareceu-me mais interessante e misterioso — até o saco de papel ganhou outra importância. O que guardava lá dentro? Um livro com capa indecente? Uma máquina fotográfica? Um coelho branco? Um pão com marmelada?

Uma hora na vida de uma mulher

Notas para mais tarde (ainda sobre “Mulheres Excelentes”, antes da devolução do livro): voltar à cena do coelho branco (duas vezes: na página 151 com Everard e na página 241 atirado para os braços de Rocky) E isto (com a etiqueta “crítica literária enviesada”, páginas 166 e 167): “Comecei pela minha própria cozinha onde as coisas do almoço e do chá foram rapidamente lavadas e enxugadas, e depois desci à casa dos Napiers com o intuito de pôr alguma ordem na confusão que lá havia. Nunca se construiu um lava-louça suficientemente levantado para alguém razoavelmente alto e não tardei a sentir dores de costas por causa do esforço de lavagem, sobretudo porque houve que esfregar aturadamente os pratos gordurosos da véspera para que ficassem limpos. Os meus pensamentos não me davam descanso e veio-me ao espírito que, se alguma vez escrevesse um romance, seria do género “fluxo de consciência” e trataria de uma hora na vida de uma mulher ao lava-louça.”

Em 1963

Barbara Pym escreveu e publicou seis romances entre 1950 e 1961. Dois anos depois, Jonathan Cape argumentou que as vendas não cobriam as despesas de impressão e recusou editar "An Unsuitable Attachment". Mesmo que o romance fosse mais fraco, soa a má desculpa. Na verdade o que Cape não teve coragem para dizer é que as personagens de Pym parecem desadequadas aos anos sessenta, são “pessoas comuns com expectativas realistas. Não são pessoas atraentes ou bafejadas pela sorte e nada fazem de grandioso nas suas vidas", como escreve Joana Graça, aqui . Então, enquanto Barbara Pym se retirava para um exílio literário em Oxfordshire, Philip Larkin — que se correspondia com a escritora e se esforçou pelo reconhecimento tardio da sua obra —, marcava 1963 como: annus mirabilis; o ano em que começou a haver sexo; entre o fim da proibição do Amante de Lady Chatterley; e o primeiro LP dos Beatles; a vida nunca foi tão boa como em 1963; oh yeah, oh yeah ; (embora tarde demais par...