O acaso pregou-me outra partida: em poucas semanas, Danúbio é o terceiro livro que fala de Cioran. Na página 314, lá surge a referência ao filósofo romeno — quase imperceptível, quase piscadela de olho. Como tudo que Magris escreve, é inteligência musical. «Esta paisagem magiar, forte e ao mesmo tempo indolente, seria já o Oriente, memória ainda fresca das estepes asiáticas, dos Huinos e Pechenegues ou do Crescente; Cioran celebra a bacia danubiana enquanto amálgama de povos vitais e obscuros, ignorantes da História, ou seja, das periodizações ideológicas inventadas pela historiografia ocidental, seio e linfa de civilização ainda não desvitalizada, aos seus olhos, pelo nacionalismo ou pelo progresso.»
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral