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Luta de classes

Nas ruas, os remediados arrancam os olhos aos pobres. Os pobres quebram as pernas aos miseráveis. Os miseráveis atiram pedras aos moribundos. Nos estúdios de televisão, os comentadores comentam. Nos camarotes, os ricos assistem a tudo, em roupa de gala, e batem palmas. Palminhas elegantes e discretas. Um tilintar simpático de pedras preciosas.

Como se morre

Os relatos de Como se Morre , de Émile Zola são impressionantes pela forma como a proximidade e consumação da morte são descritos sem sentimentalismos nem uma palavra a mais. Pode-se, talvez, falar de uma escrita tendencialmente crua, limpa, realista, qualquer coisa desse género. É um trabalho exemplar que sabe ainda melhor dada a alarvice que por aí circula. Apesar de ter aderido logo ao espírito da obra, aos poucos comecei a perceber que Zola incorria noutro erro, mas já lá vamos, agora passo a palavra a V.S.T. que explica bem o caso na sua nota introdutória Zola porque sim : «Aqui temos, rapaziada, e em curtas páginas, Zola no seu melhor-do-costume — cinco-narrativas-cinco onde, com precisão de antropólogo social e numa prosa particularmente eficaz no desenho de personagens, situações e ambientes (em meia dúzia de parágrafos, eis descrito o universo das diferentes classes — da aristocracia altaneira ao proletariado miserável e ao campesinato, passando pelas burguesias gorda

O evento

Tudo começou em 2017, quando Douglas Rushkoff - um professor de teoria dos media e de economia digital, e um dos 10 mais influentes intelectuais da atualidade segundo o MIT - foi convidado, com um tentador honorário equivalente a meio ano de salário, a proferir uma conferência sobre o futuro da tecnologia numa luxuosa e isolada estância. Para surpresa de DR, o público era constituído por apenas 5 grandes investidores de capital de risco, que cercaram o orador com temas fora da agenda do convite. As perguntas prendiam-se com a sua sobrevivência pessoal depois do "evento", o nome dado ao colapso da civilização por causas ambientais, nucleares, tecnológicas, pandémicas, ou pela combinação de todas elas: Qual o melhor sítio para construir um bunker, Alasca ou Nova Zelândia? Como garantir a fidelidade dos guarda-costas, depois do evento? Como impedir as multidões enlouquecidas pelo desespero de assaltarem esses redutos pós-apocalípticos? Viriato Soromenho-Marques.  Texto completo

Desenrolar uma linha

A maior parte das vezes não respeito as intenções. Ontem saí de casa a pensar n’ O sino de Iris Murdoch mas, ao passar pelas novidades da biblioteca, não resisti ao Henry James e a um livro que se chama “Pequenos fogos em todo o lado” de Celeste Ng. A capa reproduz uma fotografia aérea de uma zona de casas, árvores, ruas secundárias, grandes avenidas, urbanizada com esquadro e muitas regras e isso agradou-me, assim como os textos comerciais de abertura sobre Shaker Heights ( era uma cidade construída para carros e para pessoas que tinham carros ) e o apelido Ng da autora (lê-se “ing”). Deixei a Maisie em lugar visível para me provocar e avancei para os pequenos fogos. Logo desde o início, pareceu-me tudo muito previsível e regrado, isto é, apesar de Mia ou até por causa de Mia (a personagem que traz os desastres) o romance sofre um bocado do mal que pretende examinar. Agora estou a meio e percebo que o problema maior é que o livro, mesmo antes de ser adaptado à televisão, já utiliz

Os vícios dos ricos

Manoel de Oliveira dizia muitas vezes que também os ricos têm alma. Lembro-me disso, não porque duvide do fundamento da existência, mas para equilibrar um pensamento menos polido de que me apercebo sempre que ando na linha 202: os ricos precisam de alguém que lhes limpe o cu.