Jeanne Dielman, 23, quai du Commerce, 1080 Bruxelles é um objecto de muitas perplexidades: endógenas, históricas, cinematográficas, e outras ainda mais variáveis pois prendem-se com as características de quem assiste à projecção, como se o filme nos convocasse para qualquer coisa. Ainda antes da primeira imagem, o título identifica e regista Jeanne numa morada: cais do comércio, 23 . Mais do que nomear, é apresentada uma sinopse plena de significados. Mas as perplexidades continuam: como é que uma miúda de vinte e cinco anos consegue ter uma visão tão precisa e profunda do quotidiano de uma mulher de meia idade? Como é que ela sabe a este ponto? Como é que consegue detalhar cada movimento do corpo de Delphine Seyrig e ao mesmo tempo deixar na sombra tudo o que se passa na cabeça. Quando a actriz pede explicações 1 , Chantal diz que ignora o que essa mulher pensa, apenas conhece os seus gestos. Talvez seja este avançar teimoso no não saber, esta decisão de afrontar um enigma, que t...