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O tempo do verbo

Na conversa com Michelle Porte que acompanha a edição de O Camião , Marguerite Duras diz: é o primeiro filme que faço, e talvez o primeiro filme que se faz, onde o texto suporta tudo .  Mas neste texto/filme a questão gramatical é tão crucial que, creio, pode-se ir mais longe e dizer que é o único filme feito no condicional lúdico ou futuro hipotético — como as brincadeiras das crianças.

Contra

Em 1965, Cioran escreve nos seus Cadernos : “Ai terminé un article contre le christianisme. Comme toujours je finis par épouser la cause que j’ai violemment attaquée, et je passe dans le camp adverse”. (Terminei um artigo contra o cristianismo. Como sempre, acabo por aderir à causa que violentamente ataquei e passo para o campo adversário.) A falta do pronome pessoal pode ser distracção ou gralha, mas não acredito nisso. Para além do cristianismo, Cioran também está contra o francês:  Em luta com a língua francesa: uma agonia no verdadeiro sentido da palavra, uma luta onde fico sempre por baixo.  Contra a gramática: Um profeta fulminado pela gramática.  E, acima de tudo, contra o “eu”: O eu é uma ferida aberta.