Conta-se que certa noite o Diabo apareceu a Fausto. O Diabo, criatura espiritualíssima, astuciosa, mestre em assuntos sombrios e chantage, queria por força vender a alma a Fausto. E pelos vistos não a vendia cara. Mas não sou especialista em assuntos de mercado e, por isso, como se costuma dizer, faço questão de manter um certo recato. Fausto sentou-se na sua cadeira de bruços e durante alguns minutos não fez mais nada senão coçar o nariz. Um relógio distante bateu meia-noite e meia. O candeeiro lampejava no tecto como um olho enorme e misterioso. No telhado, um gato fez brilhar as suas garras. A Fausto nem sequer lhe passava pela cabeça investir algum do seu precioso cabedal na aquisição de uma alma, mesmo tratando-se da alma do Diabo, coisa rara e inestimável, suponho eu, que não sou especialista, e também supunha Fausto. Houve um momento de silêncio, que se prolongou por várias horas. Estou a encurtar muito, senão nunca mais acabava. - Hum! – murmurou Fausto, olhando o fumo do se...