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Auschwitz

Num conhecido supermercado de livros, entre best-sellers sobre maquilhagem, culinária, mindfulness e a Bíblia, conto vários romances cor-de-rosa «inspirados» em Auschwitz: As Gémeas de Auschwitz , O Tatuador de Auschwitz , O Farmacêutico de Auschwitz , A Bailarina de Auschwitz , O Violino de Auschwitz , A Bibliotecária de Auschwitz , Os Bebés de Auschwitz . As capas são muito parecidas: fotomontagens com neve, arame farpado, a linha de comboio e a silhueta do campo em fundo. O que se passa connosco? Que estranha sombra é esta que cresce entre nós, neste final de 2019?

Pergunta

Mas, sobretudo, permite explicar um fenómeno sobre o qual, penso, os estudantes de arquitectura jamais deveriam deixar de reflectir: o facto de que, como vocês sabem, o campo de Auschwitz ter sido projectado e construído por um arquitecto, Fritz Erl, que tinha estudado na Bauhaus. Por conta de uma venturosa – ou, talvez, desventurada – circunstância, o projecto do campo, que também fora firmado por outro arquitecto, Walter Dejaco, conservou-se. Em 1972, os dois arquitectos foram processados em Viena e absolvidos. Mas a pergunta que surge aqui é: como é possível que arquitectos, cuja seriedade é indubitável, tenham podido projectar um edifício onde de forma alguma teria sido possível sentir-se em casa, isto é, habitar? O que pode ser uma arquitectura que se funda sobre a impossibilidade da habitação? Giorgio Agamben.