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In the face of a purifying terror

“O Calafrio Permanente” (The Enduring Chill) parece o título de um conto de Edgar Allan Poe. Mas as semelhanças não se ficam por aí. O catolicismo de Flannery O’Connor é tremendo e prolonga-se para além do fim — como nas histórias de terror de Poe. O Espírito Santo que assusta Asbury no último parágrafo é tão terrível como a figura humana enorme e branca como a neve que encerra as “Aventuras de Arthur Gordon Pym”. Flannery O’Connor obriga a palavra “salvação” a fazer triplos mortais consecutivos. (...) It was then that he felt the beginning of a chill, a chill so peculiar, so light, that it was like a warm ripple across a deeper sea of cold. His breath came short. The fierce bird which through the years of his childhood and the days of his illness had been poised over his head, waiting mysteriously, appeared all at once to be in motion. Asbury blanched and the last film of illusion was torn as if by a whirlwind from his eyes. He saw that for the rest of his days, frail, racked, bu...
“Quem anda de cabeça para baixo, minhas Senhoras e meus Senhores, quem anda de cabeça para baixo tem o céu como abismo por baixo de si.”  O parágrafo de Rogério Casanova (do post anterior) é bom para percebermos como Robert Walser, ao passar por essa situação de lugar comum, coisa que acontece com muita frequência, toma um atalho que o leva directamente para o centro da floresta. Walser não se entretém a desfazer o discurso, não dá passos para a frente e para trás, não se arma em irónico ou nostálgico, livra-se de todos esses artifícios com um “sim”: aceita a banalidade, utiliza a frase digna de uma personagem de Barbara Cartland conforme ela é num mundo de novo inocente — porque, ao contrário de Lenz, Walser consegue a proeza de andar sobre a cabeça quando quer — e tremendamente inquietante (como o branco assustador das aventuras de Arthur Gordon Pym).  “Amo-a loucamente” pode dizer uma personagem de Walser. E é tudo verdade. Como nunca antes.