Há um protocolo nos filmes de Hong Sang-soo: os personagens devem passar longas sequências à mesa, entre comida, muita bebida e pausas para cigarros. É assim em todos os filmes. A mesa é o lugar das histórias que valem a pena ser contadas. Dessas e talvez mais ainda das que preferimos calar. É o lugar da verdade, quer dizer, o ponto geodésico entre a realidade e a ficção. Enquanto escrevo isto, recebo a mensagem de um amigo: «Estive a ver o Resende a dizer poemas. Vou escrever sobre isso. Nem sei dizer o que sinto ao vê-lo no Facebook e no Youtube. Não é saudade, é mais uma coisa do tipo puta que pariu a vida e quem lá ande . Bom, vou dormir.» O Manuel Resende foi o personagem mais completo de Hong Sang-soo. Não, é ao contrário. O Manuel Resende inventou o Hong Sang-soo.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral