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Singurătate şi destin

Durante muito tempo houve sobre a mesa de Cioran um caderno sempre fechado.  Após a sua morte, ao juntar os seus manuscritos para os confiar à Biblioteca Doucet, encontrei trinta e quatro cadernos idênticos. Só diferiam nas capas marcadas com um número e uma data. Iniciados em 26 de Junho de 1957, pararam em 1972.  Durante quinze anos, Cioran manteve no seu escritório, à mão, um desses cadernos, que parecia ser sempre o mesmo e que nunca abri. Neles encontramos entradas geralmente breves («Tenho o fragmento no sangue»), e a maior parte das vezes sem data. Apenas os acontecimentos considerados importantes estão datados, quer dizer, os passeios no campo e as noites de insónia — o que dá:  «Domingo, 3 de Abril. Caminhei todo o dia pelos arredores de Dourdan...»  «10 de Abril. Segui pelo canal Ourcq.» «24 de Novembro. Noite medonha.»  «4 de Maio. Noite atroz.»   Apesar do carácter repetitivo e monótono, guardei todas as passagens pois essas antífonas estão datadas.  Os cadernos de Cioran n

Disponibilidade para a solidão

Os discursos de António Costa são mal amanhados e quando ele se irrita (e irrita-se muitas vezes) engasga-se nas palavras e as frases parecem refletir pensamentos encavalitados e isso é mau — principalmente para os comentadores que apreciam a fineza oratória. No entanto, no discurso de ontem, creio que já perto do fim, Costa falou em «disponibilidade para a solidão» — talvez estivesse a pensar no Príncipe de Salina, talvez não, mas foi a melhor parte do discurso.

Desterro

Fernanda Granja explicou à jornalista do Público que a solidão é um desterro.  É uma definição severa e tenebrosa. A Fernanda tem uma mercearia no Carvalhido mas parece uma especialista em Cioran a falar.
Na última crónica, Álvaro Domingues escreveu sobre a solidão das torres. A imagem impressiona porque não a conseguimos compreender. A torre tão só, com a pequena estrada de terra batida a rodeá-la como o rabo dos gatos. Parece que vem de outra civilização, parece o monólito de Arthur C. Clarke — uma versão mais rasca do monólito, digamos assim.