Ah! como gostaria de me limitar unicamente à sensação, a um mundo anterior ao conceito, às variações infinitesimais de uma impressão sentida que teria de exprimir em mil palavras espantosas e desconexas! Escrever diretamente sobre o sentido , converter-me em intérprete do corpo e da alma descoordenada! Transcrever apenas o que vejo, o que me toca, fazer o que faria um réptil se pusesse mãos à obra — um réptil não pois o réptil tem a lamentável reputação de intelectual, mas um insecto. Um livro que seria poético por pura fisiologia . Emil Cioran, Cadernos 1957-1972
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral