O fruto que sempre conheci como magnório chama-se agora nêspera . Na verdade, o fruto sempre se chamou nêspera, menos no Porto e no Minho (que, no fundo, são a mesma coisa), onde era conhecido como magnório. Ignoro a origem do regionalismo. Em todo o caso, é uma mudança estranha. Não se fala de nêsperas, imagino eu, na televisão, nas telenovelas e telejornais. As frutarias da cidade, como os talhos e as padarias (onde os pães de trigo vulgares se chamam moletes ), são talvez dos últimos locais onde ainda se conservam os nomes antigos e as vogais fechadas. Onde é que a senhora da frutaria, tripeira de Paranhos, foi, pois, desencantar o termo nêspera? É uma mudança para pior. Magnório é muito mais redondo, sumarento, luminoso. Imagino Nabokov a dizer a palavra: Mag-nó-ri-o, a ponta da língua faz uma viagem de quatro passos pelo céu da boca abaixo e, no quarto, recosta-se e sonha. Mag. Nó. Ri. O.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral