No ano passado, o casal de gaivotas que faz o ninho no telhado da frente, teve uma cria. Este ano, são três. Três pequenos demónios de penugem cinzenta, aos trambolhões por entre as telhas. Os pais, incansáveis e cheios de paciência, esfalfam-se para os alimentar. Não há pausas. As crias parecem continuamente esfomeadas. Seguindo o voo das gaivotas, lembro-me, de repente, do filme de Hirokazu Kore-eda, Ninguém Sabe . A duríssima história dos quatro irmãos pequenos abandonados pela mãe, aos trambolhões num pequeno apartamento de Tóquio. Sem água, sem luz, sem comida, sem mãe nem pai. Apenas asas.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral