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Rue du Temple

Nunca enterro completamente os mortos. De vez em quando ainda vou a Rolle visitar Godard.

Selfie XIV

Os protocolos oficiais aborrecem-me, mas gosto de criar pequenos protocolos pessoais que passam despercebidos. Por isso e apesar de não estar frio, vou levar o meu cachecol vermelho para a sessão de Kommunisten . É um gesto mais ou menos entre o cepticismo de Godard e John Wayne num filme do Ford. Cada um segue os modelos que pode.

Epitáfio

Perdi-me em Lisboa à procura do Palácio Sinel de Cordes. Fartei-me de andar e quando subi as escadas e entrei na sala 1. Remakes estava exausta. Talvez o cansaço tenha influenciado o que me aconteceu: mal me sentei e olhei para as telas e ouvi a voz de Godard parecia que o coração ia saltar e não consegui segurar as lágrimas. — Caramba, isto é um Epitáfio! O ritmo das imagens e sobreposições, as telas ondulantes, os sons, os pequenos candeeiros de luz ténue, os livros, o sofá, o tapete, os pedaços de textos, as reproduções dos quadros, os cordéis vermelhos e a escuridão. A escuridão.  La guerre est là .   Fabrice Aragno transformou   Le livre d’image num lago profundo onde não paramos de cair. Estava sozinha, chorei de sala em sala. Passei mais de duas horas no velho Palácio arruinado e no jardim, mas foi pouco. Precisava de lá voltar. De noite, como me disse o Andy.  Exposição: “Éloge de l’image – Le Livre d’image”, Jean-Luc Godard  (1. Remakes, 2. Les Soirées de St Pétersbourg, 3. C
«Maria levantou-se e partiu apressadamente» é um bom princípio para uma história, de preferência de protesto. Pode ser assim:

Il s’agit bien de cela

Nunca deixo de me espantar com a capacidade de Jean-Luc Godard pensar o cinema por dentro. Em 1981, aproveitou uma passagem pelos estúdios Zoetrope para filmar Une bonne à tout faire . À primeira vista parece uma espécie de ensaio de Passion .  Mas com Godard as coisas nunca são o que parecem, e passado algum tempo ocorreu-me que também podia ser um aforismo cinematográfico , o cinema a dizer a frase do carteirista: Pour aller jusqu'à toi, quel drôle de chemin il m'a fallu prendre . Mas, a quem?

Fin de partie

Uma das coisas que mais me impressiona em Godard é a forma como ele se dedica às pessoas e às ideias, como decifra palavras, imagens, gestos, sons, a própria alma; como baralha tudo e depois afasta-se a alta velocidade, ultrapassando os objectos amados. Parece um cometa ou uma máquina inteligentíssima e selvagem feita de luz, sombra, mãos. Também foi assim na morte: antecipou-se a Federer, deixou para trás o estuporado do Cioran. Ficamos tão desamparados.
 
Quando estamos a ver o filme já nos apercebemos disso, não passa ainda de uma coisa fraca, como se os nossos olhos fossem os de Agnès Varda captando imagens desfocadas e com significados indefinidos. Na verdade, a alegria que Varda e JR levam aos "lugares" por onde passam e aos rostos das pessoas está ligado a uma tristeza que é própria da fotografia e da morte (a palavra mais adequada é "nostalgia" trazendo consigo o rasto de viagem e dor, a falta de algo), uma tristeza que se vai prolongar mais no tempo, fora da sala de cinema. "Olhares lugares" é ao mesmo tempo essa viagem literalmente a bordo de uma carrinha mascarada de máquina fotográfica e a tentativa de encontrar qualquer coisa que falta num lugar e vencer essa falha: os mineiros que já morreram, as mulheres dos estivadores de corpo inteiro nos contendores empilhados, uma cabra com cornos porque é da natureza das cabras terem cornos, a rapariga com a sombrinha, os peixes numa cisterna, os pés de