O vírus tirou o tapete aos artistas, os grandes criadores de fantasmas. O que escrever, o que filmar, o que pintar, quando a ficção se transformou literalmente na realidade? Há um mês, a ideia de um mundo suspenso, com as ruas desertas, as escolas vazias, lojas e cafés fechados, milhões de pessoas em prisão domiciliária, funerais sem familiares, há um mês, dizia, todas estas ideias podiam ser pistas para uma ficção meio distópica. Hoje, no momento em que escrevo, a distopia é pensar no mundo em que vivemos até aqui. A realidade dita «normal» é agora uma ameaça à nossa condição. Uma esplanada na Baixa, alguns amigos, algumas cervejas, sem luvas e sem máscaras, eis a distopia dos nossos dias.