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Livros

No quadro, Madame Ginoux está sentada a uma mesa de café. Sobre a mesa, três livros, um deles aberto. Van Gogh pintou-a no momento em que ela levanta os olhos do livro e fixa a atenção em qualquer coisa que está «fora de campo». Robert Walser escreveu sobre este quadro. Um texto de três páginas onde fantasia sobre tudo, excepto os livros. É como se não fizessem parte da imagem.

«Nos filmes que vi, aparecia frequentemente uma criança como personagem principal. »

Já tenho uma lista de alguns filmes que Robert Walser viu e outra de filmes baseados em textos seus. Agora estou a fazer uma muito mais divertida: filmes que talvez agradassem a Walser. The Kid (1921), de Charles Chaplin. The Three Musketeers (1921), de Fred Niblo. Dr. Mabuse, der Spieler (1922), de Fritz Lang. The General (1926), de Buster Keaton. La Nuit du Carrefour (1932), de Jean Renoir.  Vampyr (1932), de Carl Dreyer. Zéro de Conduite (1933), de Jean Vigo.  The Night of the Hunter (1955), de Charles Laughton. Judex (1963), de Georges Franju. Cours du Soir (1967), de Nicolas Ribowski. Цвет граната (1969), de Sergei Parajanov. Peau d'Âne (1970), de Jacques Demi.  Quatre Nuits d'un Rêveur (1971), de Robert Bresson. Parade (1974), de Jacques Tati. Silvestre (1981), de João César Monteiro. Maine Océan (1986), de Jacques Rozier. Who Framed Roger Rabbit (1988), de Robert Zemeckis. Van Gogh (1991), de Maurice Pialat. Aceitam-se contributos.

Temos aqui uma situação

 « (...) Quanto a mim, já me diverti bastante com encenações e representações de terceira categoria. As coisas mais refinadas nem sempre são as mais digeríveis...» Caminhadas com Robert Walser, de Carl Seelig. Tradução de Bernardo Ferro. BCF editores. Abril de 2019.

Série C

Deve ser uma desforra. Bastou-me formular o pensamento da impossibilidade de adaptar os textos de Walser ao cinema, para não me faltarem ideias divertidas  para filmezinhos walserianos.

Walser e o Cinema (uma aproximação breve e provisória)

Tenho de escrever um texto sobre as relações – ou possibilidades de relações – entre Robert Walser e o cinema. A minha primeira frase foi assertiva: (pela sua exuberância e quebra de regras) os textos de Walser não são propícios a adaptações; quanto às idas aos cinemas-cabaret na Berlim imoral, alinho. Branca de Neve abre e logo a seguir fecha o único caminho que consigo ver (em termos de estrelas curriculares, é um dos melhores filmes falhados que conheço).  Mas ontem de manhã, na praia, tive uma ideia para um filme (curto, curtíssimo) que envolve Walser.  Hoje voltei à mesma praia e fechei a planificação – até vi o genérico. Ficou tudo azul e verde diante dos meus olhos . Oh!

Eu sou uma colher no parapeito da janela

[Breve estudo de literatura comparada] John Fante acelera a capacidade de levar tudo pela frente em  Estrada para Los Angeles*:  agora são dois (e um deles, completamente destravado) a escrever dentro do livro — é o chamado efeito estéreo literário.  «Elas tinham-me deixado um bilhete em cima da mesa. Dizia que tinham ido a casa do tio Frank e que eu tinha comida na despensa para o pequeno-almoço. Decidi ir comer ao Sítio do Jim, pois ainda me sobrava algum dinheiro. Atravessei o recreio da escola que ficava do outro lado da rua e pus-me a caminho do Sítio do Jim. Pedi uns ovos com fiambre. Enquanto comia, o Jim ia falando.  – Tu fartas-te de ler – disse ele. – Já tentaste escrever um livro?  Foi o suficiente. Daí em diante, eu queria ser escritor.  – Estou a escrever um livro neste preciso momento – disse eu.  Ele quis saber que tipo de livro.  A minha prosa não é para vender – disse-lhe eu. – Eu escrevo para a posteridade.  – Não sabia – di...

Prestar um favor aos ricos

Sou um vendedor nato: galante, pressuroso, cortês, veloz, lacónico, lesto a decidir, exímio nos cálculos, atento e honesto, mas não honesto ao ponto da estupidez, como talvez possa parecer. Sei baixar os preços quando tenho à minha frente um estudante que não tem onde cair morto e sei subir os preços para assim prestar um favor aos ricos, de quem apenas posso supor que por vezes não sabem o que fazer ao dinheiro. Robert Walser, Os Irmãos Tanner . Tradução de Isabel Castro Silva

Galochas e buraquinhos nas luvas

[Breve estudo de literatura comparada] Por razões de trabalho, o Rui anda a ler Robert Walser de uma ponta à outra. No sentido inverso, isto é, para festejar o fim do trabalho assalariado, resolvi atirar-me de novo a John Fante.  Quando o li pela primeira vez, achei que tinha semelhanças com Walser (Fante ou Bandini?), mas nunca estudei o assunto – nem sempre se deve aprofundar as nossas intuições, pois claro! Agora as relações surgem por iniciativa própria: os objectos mais banais ganham vida própria, movimento, diminutivos; a alegria alastra como uma névoa. (Ah, deve ser o efeito da praia atlântica, da areia, do vento, da liberdade.) Provas materiais: «Rosa, a presidente da Sociedade do Santo Nome, a menina dos olhos de toda a gente, cada vez mais próxima, caminhando sobre as pequenas galochas que pareciam dançar de alegria, como se a amassem também.» «Num dos bolsos laterais encontrou um par de pequenas luvas. Estavam bastante gastas, com buracos na ponta do dedos. Oh, que lindo...

Deixa lá isso

A certa altura, a Branca de Neve exige ao Príncipe que pare com a sua empolada tagarelice e as suas intermináveis promessas de fidelidade: «Porque falas assim sem parar?» Se ele estivesse efectivamente rendido aos encantos da donzela, não precisava de taramelar «como uma cascata sobre o silêncio». Só a infidelidade, diz ela, «palra tão depressa». O Príncipe, lapidar, responde: «Deixa lá isso!» Na voz de um bom actor, é das frases mais desconcertantes e engraçadas do dramalhete de Robert Walser.

Playtime

Parece-me agora óbvio que Monsieur Hulot, de Playtime , é um descendente directo das personagens desarrumadas de Robert Walser. O mundo moderno, organizado como um frio relógio suíço, é para todas estas figuras um imenso parque de diversões. Motivo de prazer e angústia.

Glarner Birnbrot

Nos seus diários, Max Frisch escreve que Lenine e Robert Walser conversaram apenas uma vez. Foi em 1917, na Spiegelgasse, em Zurique, em frente a uma pastelaria. Dias antes da Revolução e do regresso de Lenine à Rússia. Walser fez-lhe uma única pergunta: «Também gostas de Glarner Birnbrot ?» Frisch garante que a história é verdadeira.

É para nós um enigma

O salteador afastou as abas da camisa e o referido membro da associação viu o que nunca esperaria ser obrigado a ver e empalideceu. (...) Mas que terá o salteador mostrado ao membro da associação? Não fazemos a menor ideia. Robert Walser, O salteador . Tradução de Leopoldina Almeida.

Igreja

Roberto Calasso cita em K. um comentário de Musil sobre O Desaparecido. Musil diz que o romance de Kafka é regido por «aquele sentimento das orações fervorosas das crianças e tem algo do escrúpulo irrequieto dos trabalhos para casa bem feitos.» O comentário também serve como uma luva às Redacções de Fritz Kocher , de Walser.  Karl Rossmann, Fritz Kocher, Franz Kafka.  Roberto Calasso, Robert Musil, Robert Walser.  E todos os santos e santas da nossa sagrada igreja.

Juste une image

Em 1976, as pessoas de Trás-os-Montes não gostaram da cena da neve. Acharam que os denegria, que não correspondia à realidade, que ninguém é tão pobre que coma neve.  A própria Margarida tinha algumas reservas: Essa ideia foi mesmo do António. Significava uma pobreza extrema. E claro que a neve não alimenta. Eu ai pus uma certa reserva. A neve é bonita mas não alimenta. E também não era neve... É qualquer coisa da produção, uma espécie de espuma... Eu aí reagi um bocado. Primeiro porque não alimenta. Segundo porque não era verdade... Pus uma certa reserva. Mas a única reserva que ponho actualmente é a lentidão. Dura muito. A duração dessa plano devia ter sido encurtado .  Mas a força da cena vem precisamente da sua profundidade e da sua  duração ; quando vemos a neve (apanhada, servida, comida) paramos e temos tempo para compreender o que é a pobreza e, se dermos um passo atrás, o que é uma imagem.  Há palavras de Kafka em Trás-os-Montes , mas esta imagem — destemid...

O resto é vício

No dia 1 de Outubro de 1936, Beckett escreveu no diário: «O essencial não é saber se estamos certos ou errados — isso não tem importância. O importante é desencorajar o mundo a preocupar-se connosco. Tudo o resto é vício.» Nesse momento, Robert Walser sentiu um sopro no pavilhão das orelhas e um repentino sobressalto no coração.

O Executor

Divirto-me muito a conversar com o chatGPT. Acho que o vou convidar para a consoada.