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Armado de escrúpulos

Se alguma vez um mortal foi atormentado, supliciado pelas dúvidas sobre si mesmo, esse mortal sou eu. Em tudo. Quando entrego um texto a uma revista, a minha primeira ideia é reavê-lo, retocá-lo e, sobretudo, abandoná-lo. Não confio em nada do que faço e penso. E se tenho uma certeza, é da desconfiança de mim mesmo — o que põe em causa não só as minhas capacidades, mas também os fundamentos e a razão do meu ser. Estou literalmente armado de escrúpulos. Como é que pude, nestas condições, empreender seja o que for e, com tantas perplexidades, decidir-me pelo menor acto, pelo menor pensamento? Emil Cioran, Cadernos 1957-1972