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Observações avulsas sobre a boavista #34

Ai Weiwei até pode não ser um artista notável, mas é um provocador bastante activo. A imagem de “Entrelaçar” (ele nu entre melancias, ananases, bananas, tomates e outros frutos), que está nas bandeirolas à entrada da Marechal, perturba a compostura burguesa da zona e isso é sempre digno de apreço.

Pimenta

Sendo a quantidade de obras em curso [no reinado de D. Manuel] tão grande, a sua execução dependia de um controlo inflexível de todo o processo, dos materiais aos executantes. O rei envolve-se pessoalmente em todo este processo e, sabendo que precisa de pintores de qualidade, insuficientes em Portugal, manda Francisco Henriques, ele próprio um flamengo, à Flandres para recrutar mão-de-obra com o dinheiro resultante da venda dos 550 quilos de pimenta que leva na bagagem. É provável, defende Joaquim Caetano, [director do MNAA], que Frei Carlos e o Mestre da Lourinhã tenham vindo neste grupo de artistas recrutados a pimenta. Lucinda Canelas, no jornal Público de hoje, a propósito da exposição Vi o Reino Renovar. Arte no Tempo de D. Manuel , no MNAA.

Mudar o nome

O que peço à arte é que me ajude a dizer o que penso com a maior clareza possível, a inventar os signos plásticos e críticos que me permitam com a maior eficiência condenar a barbárie do Ocidente; é possível que alguém me demonstre que isso não é arte; não teria nenhum problema, não mudaria de caminho, me limitaria a mudar-lhe o nome: riscaria arte e chamaria de política, crítica corrosiva, qualquer coisa. León Ferrari.

Escolha

Dois filmes recentes: Martin Eden , de Pietro Marcello, e A verdade , de Hirokazu Kore-eda. Ambos giram em torno de personagens que, de uma maneira ou de outra, trocaram a vida pela arte. Um escritor e uma actriz. Tudo é sacrificado pelo desejo de alcançar uma suposta perfeição artística. Mas, tal como no Fausto , e com a dose certa de moralismo, o preço do sucesso é sempre demasiado elevado: loucura, solidão, autodestruição. No extremo oposto, está o «doutor», personagem do conto O visitante da noite , de B. Traven. Um escritor que vive isolado na floresta tropical e que escreve para um único leitor: ele próprio. Todo o prazer da criação está contido unicamente no acto da escrita: «Sempre que concluía um livro, relia-o, corrigia-o, introduzia-lhe as alterações que julgava essenciais para o tornar perfeito, o mais próximo possível da minha ideia de perfeição, e, feito isto, sentia-me feliz, plenamente preenchido. Logo a seguir destruía o livro...» Escrevi que o «doutor» está no «extr
1930 Engelmann disse-me que em casa, ao remexer uma gaveta cheia de manuscritos seus, estes lhe parecem tão excelentes que pensa que valeria a pena dá-los a conhecer a outras pessoas. (Diz que o mesmo se passa ao ler cartas dos seus parentes já falecidos.) Mas quando pensa em publicar uma selecção desses manuscritos, as coisas perdem o seu encanto e valor, o projecto toma-se impos­sível. Eu disse que tal se assemelhava ao caso seguinte: nada há de mais extraordinário do que ver um homem, que pensa não estar a ser observado, a levar a cabo uma actividade vulgar e muito sim­ples. Imaginemos um teatro; o pano sobe e vemos um homem sozi­nho num quarto, a andar para a frente e para trás a acender um cigarro, a sentar-se, etc., de modo que, subitamente, estamos a observar um ser humano do exterior, de um modo como, normal­mente, nunca podemos observar-nos a nós mesmos; seria como observar com os nossos próprios olhos um capítulo de uma biografia — isto poderia, sem dúvida, ser ao mesmo temp