A grande literatura húngara não é a que celebra o esplendor de uma Hungria heróica, mas a que denuncia a miséria e as sombras do destino húngaro. O próprio Petőfi, cantor da pátria e do Deus dos magiares, fustiga o egoísmo inerte dos nobres e a indolência da nação. Endre Ady canta a «tétrica terra magiar», define-se como «tristemente magiar» e proclama que «os Messias magiares são mil vezes Messias», porque no seu país as lágrimas são mais salgadas e eles morrem sem nada ter redimido. Quem nasce na Hungria paga um tributo à vida, porque a Hungria — diz-nos outro poema — é um fétido lago da morte; os Húngaros desgastando-se são «os bufões do mundo» e o poeta carrega dentro de si, dorido, a planície melancólica. A literatura magiar é uma vasta antologia dessas feridas, desta sensação de abandono que induz os Húngaros a sentirem-se como diz uma poesia de Attila József, «sentados na borda do universo». László Németh, o chefe de fila dos escritores popularizantes, falou de uma condição de «
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral