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As alegrias em cadeia da tradução

Voltei a Cioran. Estou a traduzir mais alguns dos empolgantes Exercícios de Admiração (o outro lado do filósofo sinistro). Quando encontrei a citação de The Crack-Up , fui buscar a versão de Aníbal Fernandes ( A Ferida Aberta , Hiena, Janeiro de 1986) e, ao folhear o livro, descobri a expressão estar na fossa na página 65. Apesar de me ocorrer muitas vezes, nunca tive coragem de a usar nos textos de Cioran, porque é demasiado moderna. Encontrá-la no livrinho maldito de F. Scott Fitzgerald pareceu-me um sinal inequívoco de pensamento circular. 

Eram sete horas de uma noite muito quente nas colinas de Sinoe

Quando perguntavam a Jean Giono, escritor de surpreendentes dotes literários, qual tinha sido em si o primeiro sinal de homem da escrita, como lhe era possível mostrar um tão hábil convívio com a língua francesa saindo ele de poucas letras e de um passado onde tinham sido impostas à sua infância e à sua juventude tão grandes limitações culturais, Giono desfazia a expectativa de motivações complexas recorrendo apenas a um acidente onde cabiam Kipling e o seu The Jungle Book : Esta simples frase -  «Eram sete horas de uma noite muito quente nas colinas de Sinoe» - deu origem a tudo. Senti a certeza de também ser capaz de escrever aquilo e, à minha maneira, de o continuar. Aníbal Fernandes, na apresentação de O Homem que Falou , de Jean Giono.

Comic relief

Aníbal Fernandes conta no prefácio de O Pendura que o pai de Jules Renard se matou com um tiro de caçadeira e a mãe se deitou a afogar num poço. Desta fatalidade dupla, diz o prefaciador, Renard extraiu este desabafo: «Que maneira tão complicada de me fazerem órfão.» Nada está mais próximo do riso do que o desespero.