«Os bons tradutores não interpretam só as palavras.» Alda Rodrigues, Simpatia inacabada #5, 15 de março de 2023. À primeira vista, traduzir não tem nada a ver com representação teatral. A tradutora está metida no seu quarto, sozinha, horas a fio, enquanto a actriz se move em cima de um palco iluminado a falar para o público. Mas depois de contornarmos essas pequenas evidências, podemos muito bem afastarmo-nos a correr, movidas por ideias caprichosas, e então começamos a perceber que traduzir e representar podem ser — são mesmo — movimentos afins. Afinal, a tradutora não está fechada num quarto, já saiu pela janela e vai para todo o lado atrás das ideias e das palavras impressas. Interpreta o texto e o autor; ensaia os seus gestos até o movimento sair automaticamente, sem pensamentos analíticos — até as palavras e as frases encontrarem um ritmo instintivo: uma coisa nova . E agora é como se estivesse em cima de um palco iluminado com uma luz escura a representar para uma audiência de
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral