Por mais mais voltas que dê, não consigo descrever Franz Polzer. Posso arrumá-lo na secção pobres diabos , sim, mas tem de ficar num quarto incomunicável porque essa categoria não permite nem diálogo nem irmandade. Tudo o que pode ser dito sobre Polzer, está escrito n’ Os Mutilados — o resto são interpretações de segunda, discursos frágeis, variações menores. O grande passo da literatura é a capacidade de transformar palavras e personagens, coisas intangíveis por natureza, em objectos únicos. Uma obra literária é como uma árvore ou uma pedra — guarda o mesmo mistério. Não se deixa apanhar.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral