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Refletir (um postal para a Alexandra)

Conheci escritores obtusos e até mesmo estúpidos; todos os tradutores que conheci eram, sem excepção, inteligentes e muitas vezes mais interessantes do que os autores que traduziam. (Há mais reflexão na tradução do que na «criação».) Emil Cioran, Cadernos 1957-1972 (outubro de 1971).

Tradutores à revelia

Ontem, na Térmita, o Rui confessou que traduziu autores de língua espanhola (pelo menos Oliverio Girondo, Roberto Arlt, Rúben Darío e Virgilio Piñera) sem saber falar espanhol. Eu traduzo do francês sem as devidas credenciais académicas. Acho que devíamos fundar uma associação não profissional de tradutores à revelia.

Belisário Praxedes

Estava à procura de edições portuguesas de Gamiani ou Deux nuits d'excès , o romance erótico atribuído a Alfred de Musset. O sítio da Biblioteca Nacional levou-me à edição da Arcádia, de 1975: Gamiani ou Duas noites de prazer . O tradutor chama-se Belisário Praxedes. Um pseudónimo, certamente. Pesquiso outros livros traduzidos por Praxedes. Surgem mais três referências, todas elas de clássicos eróticos: Os onze mil vergalhos , de Apollinaire; e Fanny Hill e A vida secreta de um estudante , ambos de John Cleland. Consulto o dicionário. Belisário significa «aquele que perdeu a riqueza» e é um adjectivo que serve para designar uma pessoa «pobre», «que tem má sorte». Praxedes vem do grego praxiádes , cujo significado está relacionado com os verbos «praticar», «agir», «fazer» e «experimentar». Um tradutor cuja pobreza não o impede de fazer e praticar. Uma existência muito baudelairiana.

A cabeça de um condenado

É praticamente no início da narrativa. Um misterioso personagem dos Contos Cruéis , de Villiers de L’Isle Adam, decide chamar a si mesmo Barão Saturno. A tradutora, Fernanda Barão (coincidência curiosa), remete o leitor para uma nota de rodapé onde explica os motivos que poderão estar na origem daquele nome. É a nota 44: Depois de As Flores do Mal , os Poemas Saturnianos de Verlaine («Jette ce livre saturnien…»), transformaram, de certo modo, em moda o signo maldito de Saturno. No primeiro capítulo de Claire Lenoir [novela de Villiers de L’Isle Adam], Bonhomet define-se a si próprio como um saturniano.  E agora a parte que mais me interessa e que é uma homenagem à imaginação dos tradutores:  Para um visionário como Villiers, além disso atraído pelas curiosidades da astronomia, o planeta Saturno, com a sua esfera prisioneira de um anel, podia evocar a cabeça de um condenado decapitado pela guilhotina. Mais à frente, o leitor percebe que o Barão era um «executor de sentenças finais», o