A certa altura, Stefan Zweig diz que E.T.A. Hoffmann lhe lembra um instrumento musical partido. Quer dizer, quando Hoffmann tenta uma nota alegre o que lhe sai é uma nota triste. Quando procura uma melodia serena sai-lhe uma variação assustadora. «Com efeito, E.T.A. Hoffmann foi sempre um instrumento com uma pequena fenda.» O mestre alemão seria, pois, uma espécie de escritor com defeito. Não um defeito técnico, como acontece numa máquina — um cortador de relva que não funciona correctamente, por exemplo —, mas um defeito humano, criador de arte. Seja como for, um instrumento musical capaz de criar uma música estranha e desafinadamente bela. Não há melhor elogio que se possa fazer a um escritor.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral