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Mensagens

A mostrar mensagens de junho, 2017

A verdadeira natureza

Bacantes

Bacantes - Prelúdio para uma purga , de Marlene Monteiro Freitas, é uma obra bela e complexa, povoada de pormenores, truques e dispositivos curiosíssimos, que revelam uma inteligência e sensibilidade raras. A escolha da grande peça de Eurípides (representada pela primeira vez por volta de 406 a. C.) não é inocente: As Bacantes retratam as origens do culto de Dióniso, cujo ritual era acompanhado de dança frenética até um estado de exaltação mística - a loucura sagrada - alcançada pelo esgotamento físico. Começar pelo princípio A peça de Eurípides, As Bacantes , centra-se no mito do rei de Tebas, Penteu, que se recusa a venerar Diónisos e que, em consequência disso, é castigado pelo deus da forma mais cruel e trágica: o rei é morto pela própria mãe, Agave, enquanto esta se acha tomada pelo delírio báquico, durante as celebrações dos rituais dionisíacos. As Dionísias eram festas em honra de Diónisos, também conhecido por Baco ou Brómio, deus da fertilidade e do vinho, potencial cau

Corpo de Deus

Uma floresta em marcha

Última nota sobre Macbeth . No final de Macbeth , antes da derradeira batalha, Malcolm ordena aos soldados que cortem ramos das árvores de Birnam e que avancem ocultos atrás deles, de maneira a confundir o inimigo. MALCOLM: Que cada homem corte pra si ramos E os leve à sua frente, pra escondermos O número dos nossos e induzirmos Em erro os espiões. Shakespeare, Macbeth , 5.4 Que melhor imagem para ilustrar aquilo que somos? Um bando de criaturas ardilosas, assustadas e determinadas em esconder a sua angústia atrás de ramos de árvores. Tal como no início dos tempos.

A arte de sublinhar Macbeth, segundo Marquês de Sade

No Manual de Leitura de Macbeth , editado pelo  Teatro Nacional de São João , Rui Carvalho Homem escreve sobre a famosa “intemporalidade” de Shakespeare. Quer dizer, sobre a “capacidade de o texto shakespeariano nos propor um entendimento do mundo e do humano”, que atravessa o tempo e o espaço. Essa “intemporalidade”, continua Rui Carvalho Homem, é “encarada hoje com reserva (ou cepticismo)” pela crítica académica, em resultado do aparecimento de “novos contextualismos”. No entanto, é inegável que Shakespeare foi e continua a ser “fonte de ampla produção literária e artística”, e a sua influência “não encontra paralelo em qualquer outro corpus literário e dramático”. Shakespeare criou o mundo em sete dias. No primeiro dia fez o céu, as montanhas e os abismos da alma. No segundo dia fez os rios, os mares, os oceanos E os restantes sentimentos - Que deu a Hamlet, a Júlio César, a António, a Cleópatra e a Ofélia, A Otelo e a outros, Para que fossem seus donos, eles e os seus

Macbeth na alcova

Tenho pensado em Macbeth por causa da leitura de Nuno Carinhas , actualmente em cena no São João. É óbvio que Shakespeare está em todo o lado, mas não existirá uma estranha e íntima ligação entre Macbeth e as ficções de Marquês de Sade? E estou a pensar, em particular, na Filosofia na Alcova . Voltarei ao assunto.

David Lynch para crianças

David Lynch costuma lembrar que não vale a pena procurar explicações ou respostas nos seus filmes. Acho que Lynch está certo: é inútil tentar explicar uma obra de arte. O nosso drama é sermos humanos e convivermos mal com aquilo que não conseguimos explicar. Por isso, criámos Deus e os críticos. Ambos oferecem as explicações inexplicáveis de que precisamos. Ambos pertencem ao domínio da fé. O que é curioso em David Lynch: The Art Life é a quantidade excessiva de explicações. Lynch oferece um significado para cada aspecto da sua obra ou, pelo menos, uma proposta de significado. E o mais curioso ainda, tratando-se de Lynch, é a pobreza confrangedora desse “exercício explicativo”. A história que ele constrói, a partir da memória dos seus anos de formação, é uma sequência de lugares-comuns e ideias superficiais. Tudo demasiado óbvio, redondo, sem sombra de profundidade. Na verdade, o filme parece uma colecção de sound bites sobre a arte e a “vida de artista”, montados segundo a lógica