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A mostrar mensagens com a etiqueta Joaquim Manuel Magalhães

Wenn dan der Erde Grün von neuem Euch erglänzt

É magnífico como Hölderlin transforma o alemão numa língua musical e leve (Straub talvez dissesse «arejada»). Agora os poetas não ligam muito a essa qualidade, mas ainda é uma das grandezas da poesia.  Pessanha faz isso com o português. E em Para Comigo ( reunião da sua poesia tal como a pretende preservar ), Joaquim Manuel Magalhães tem poemas que são verdadeiras ruínas de ruínas (é só pó e pedras), mas outros surgem quase como cantilenas e são belos e têm essa alegria sem afectação que só se encontra na natureza.

corpo vulnerável (que fracassa)

Canoagem é um título bestial. Mas o que mais gosto em Joaquim Manuel Magalhães nem é esse golpe de apanhar uma palavra (ou uma frase) que ressoa, ou deixa um rasto intrigante. O que me emociona a valer é o trabalho que se vê em cada página: Joaquim Manuel Magalhães não só escreve os poemas, também os traduz. — Imagino-o vestido com um fato macaco e as mãos sujas (mais um para o grupo Die letzten Menschen , de August Sander) .

Uma escritora intensivista

O acervo de Flannery O’Connor tem quatro manuscritos de “The geranium”, um manuscrito de “An exile in the east”, quatro manuscritos de “Getting home” (erradamente classificados como manuscritos de “Judgment day”) e dezassete manuscritos e fragmentos de “Judgment day”. O que Flannery O’Connor faz entre “The geranium” (1946) e “Judgment day” (1964) é mais ou menos o mesmo que Joaquim Manuel Magalhães fez em “Um toldo vermelho”. Flannery executa essa razia sem o dramatismo dos poetas. Apenas avança porque é necessário, urgente e não pode ser de outro modo. Avança com a suavidade de quem desbrava um caminho de silvas. Mas não são as silvas que deita fora.