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A mostrar mensagens com a etiqueta Palestina

Ver e não ver

Ainda a propósito de ver e não ver: «A prática de vendar os olhos de prisioneiros palestinos tem sido amplamente empregada por soldados israelenses. Não apenas no momento de captura ou deslocamento de detidos. Trata-se de uma técnica de tortura: vendar os olhos também por longos períodos em cativeiro. Os impactos destrutivos são notáveis. É um ato de privação sensorial que, segundo a psiquiatra e psicoterapeuta palestina Samah Jabr, tem consequências psíquicas e fisiológicas perenes: lesões oculares, estados profundos de dissociação, vulnerabilidade e dor. Sobreviventes relatam a indiferenciação do dia e da noite, também a impossibilidade de dormir por longos períodos ou de suportar a escuridão. Para alguns, após serem desvendados, as pálpebras não se fecham por algum tempo. Vemos sobreviventes que saem da prisão desfigurados com seus olhos arregalados, em choque, não piscam mais. Seria o vendado aquele que teria visto demais? Para Samah Jabr, soldados israelenses vendam os olhos dos

Solidariedade

Sessão de solidariedade com o povo palestiniano. A livraria está cheia. Alguém lê um poema: «… os meus dias estão salpicados de sangue e de perdas irreparáveis…» Um tipo, sentado à minha frente, fotografa com o telemóvel as suas pomposas sapatilhas amarelas. Faz várias imagens, de diferentes ângulos. A leitura prossegue: «… o fogo rodeia-me por todos os lados…» O tipo escolhe uma fotografia e exibe, orgulhoso, as sapatilhas amarelas nas redes sociais. Espera cinco segundos pelos primeiros likes . Reage com um emoji sorridente a um comentário. Ao lado, encostada à parede, uma rapariga de 18 ou 19 anos, escuta o poema abraçada a um boneco de peluche que trouxe de casa. «… nem mesmo aos meus inimigos fidagais desejo este inferno…» Um rapaz também quer ler um poema. Pousa o gin-tónico, compõe o gesto e começa. Não há dúvida de que sabe ler. Talvez seja um actor. «… os nossos ossos hão-de ser Inverno para queimar à lareira…» A amiga dele grava tudo com o telemóvel. Aplausos, aplausos. O ra

Uma imagem de possibilidade

Os miúdos que ocuparam o jardim da Faculdade de Ciências do Porto, montaram as tendas junto ao sobreiro e à faia-pendula . Ou deram conta que as diferenças e a proximidade das duas árvores têm a ver com a sua luta ou foi um belo golpe do acaso.

Material circulante

O noticiário da rádio abre com novos pormenores sobre os horrorosos acontecimentos na Palestina. Logo a seguir, futebol. As declarações dos jogadores, as opiniões dos treinadores, os comentários dos comentadores. O noticiário termina com uma peça rápida sobre comboios, que não consigo perceber bem. Retenho apenas a expressão «material circulante». Perfeita alegoria do actual estado da informação: tudo não passa de simples «material circulante».