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A alegria de destruir

Haverá um dia, talvez, em que o historiador consentirá em lançar um olhar à História focado nas suas mais baixas formas de tédio. É o tédio que é a fonte das alterações súbitas, das guerras sem motivos, das revoluções mortíferas; não existe causa mais operante do que ele. Surge uma necessidade de sentir existir , de romper com a monotonia do ser, do puro imaginável; o assassínio, a vingança e a alegria de destruir por destruir circulam livremente num povo que, ainda há pouco tempo, parecia tranquilo e sábio, a suprema flor de uma civilização consomada. Os historiadores dirão depois que causas políticas, económicas e sociais explicam essa erupção; evidentemente, mas não atentaram no facto elementar de que esse povo se entediava.  Benjamin Fondane, A Segunda-Feira Existencial e o Domingo da História . Tradução: Diogo Paiva.

O tédio

O que mais impressiona nestes novos e velhos defensores dos chamados «valores da Identidade e da Família» é a sua entrega passiva ao tédio. Ao tédio mais absoluto. Uma entrega sem luta, sem revolta, voluntária, apática. Na verdade, têm horror à vida.

Condomínio fechado

[A propósito de Três Andares , de Nanni Moretti.] Engenheiros, arquitectos, académicos, advogados, juízes do Primeiro Mundo consumidos, em lume brando, pelo tédio. Um tédio branco, higiénico, educado. Um odor a anestésico a flutuar por todo o lado. As casas não são casas, os prédios não são prédios, mas armazéns em zonas nobres onde a solidão engendra monstros. Aquários de água tépida com peixinhos dourados que se mordem uns aos outros porque não há mais nada para fazer. Nanni Moretti aproxima-se de Michael Haneke. Ou talvez Heneke tenha estado este tempo todo à espera de Moretti.