Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens com a etiqueta Einstellung

Coisas visíveis

Fort Apache é um filme magnífico que permite imensas leituras (políticas, musicais, éticas, cinematográficas,…) não só do que é visível, mas também das elipses fundamentais (como lhe chama João Bénard da Costa, com imensa pontaria) que ficam para sempre dentro da nossa cabeça a desinquietar (por exemplo, a enigmática relação entre Thursday e Collington). Das coisas visíveis, destaco uma frase e uma sequência. Referindo-se ao marido que vai nessa manobra funesta planeada pelo tenente-coronel Owen Thursday, Emily Collington diz: Não o vejo. Tudo o que vejo são as bandeiras . Depois do massacre, há um confronto entre o pelotão de John Wayne e os apaches. Wayne aceita a derrota, atira ao chão o coldre com as armas (num plano em que percebemos a admiração de Huillet e Straub) e avança até Cochise. No plano seguinte os índios desaparecem no pó.

Einstellung

Einstellung  também significa disposição moral. (...) O que é necessário, creio, é uma ideia. Uma ideia que não seja uma intenção simbólica nem psicológica. Uma ideia moral, logo política. Tenho andado a pensar no que escrevi ontem porque não basta dizer que é preciso um outro tipo de acção para homenagear os filmes de Danièle Huillet e Jean-Marie Straub. Lembrei-me do verso de Hölderlin e percebi que, por exemplo, os pobres também têm direito a olhar o rio é igual a um dia talvez a terra volte a brilhar verde para nós — é o mesmo desejo, a mesma reivindicação.  Então, naquele terreno abandonado do antigo bairro de São Vicente de Paulo devia ser construído um jardim — era uma resposta justa ao trabalho de Huillet e Straub. Um jardim de laranjas doces. E depois projectavam-se um ou dois filmes as vezes que fossem necessárias até ficar clara a relação entre as imagens no écran e as laranjas, entre a vida dos antigos e as nossas — uma dialéctica das sensações. Podem objec...