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É hoje!

O noticiário da rádio abre aos gritos. A primeira página do jornal treme em convulsões. Febre e suores frios nos canais de televisão. É hoje, hoje, hoje! É hoje o grande espectáculo! É hoje o grande combate! É hoje a grande final! Senhoras e senhores, à vossa esquerda, o campeão em título, o leão do Rato, o devorador de comunistas que devoram criancinhas, o homem sem medo, o colosso do punho de ferro. À vossa direita, vejam bem: o cavaleiro sem cabeça, o filho do acaso, o homem invisível, o lidador do vazio, o gladiador que se faz de morto, a grande nuvem. É hoje que tudo se decide. Frente a frente, olhos nos olhos. Quem for ao tapete, está perdido. Se é sensível ao sangue, não se aflija: logo a seguir ao grande combate e aos anúncios publicitários, assista às pequenas lutas de galos entre os nossos comentadores residentes. Eles explicam-lhe tudo o que aconteceu e não aconteceu, entre beliscões benignos e pancadinhas inofensivas, sem fazer feridas ou deixar marcas. É hoje, é hoje, é ho

Ir sempre mais longe

Na sua Viagem a Itália , Goethe escreveu qualquer coisa que nos parece destinada. Sublinha uma diferença entre os Antigos e os Modernos que diz respeito precisamente a este ponto. Os Antigos, lemos, fizeram do existente, do terrível e do agradável, o pivot da sua representação, enquanto que se os Modernos se interessam por estes aspectos é pelo efeito que estes produzem. Mas quando o que interessa é a procura do efeito, conclui Goethe, o resultado não pode ser outro que não a hipérbole, a maneira, a afectação. Aquele que opera em busca do efeito não crê nunca tê-lo tornado suficientemente perceptível e deverá, portanto, ir sempre mais longe. É precisamente o que acontece hoje. Quem se preocupa ainda em suscitar julgamentos fundados? O que conta é, pelo contrário, solicitar e administrar as emoções: interceptá-las e fertilizar um terreno propício ao consumo de mercadorias, quer se trate de visões do mundo, de discursos, de imagens, de objectos ou de comunicações. Fabio Merlini, na revis