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A mostrar mensagens com a etiqueta Bonfim

Observações avulsas sobre o bonfim #70 (fado da frutaria)

A maior parte das frutarias populares do Porto é território agreste. A fruta é barata, por isso os clientes (gente com pouco dinheiro, muitos imigrantes) aguentam as repreensões constantes e não se melindram com os avisos colados nas paredes. Apanho quase sempre a Sofia irritada e aos berros na caixa. Hoje de manhã, depois das brejeirices habituais, gritou a um cliente: não arranque as folhas do coração, eu não vejo, mas ouço .

Observações avulsas sobre o bonfim #69

No outdoor do PSD no Campo 24 de Agosto, lê-se em palavras destacadas: pessoas [no] bom caminho . Parece o paleio das igrejas que vendem a salvação a prestações.  Prefiro o revés, prefiro a sabedoria louca da mulher do camião: Que-le-monde-aille-à-sa-perte-c’est-la-seule-politique...

Observações avulsas sobre o bonfim #68

Agora, aos sábados de manhã, há sempre polícias no Campo 24 de Agosto. A semana passada eram mais de dez e vários carros e carrinhas azuis. Parecia uma zona de perigo. Perguntei o que se passava, disseram-me que se tratava de  uma acção de cosmética .  Ontem era só um carro e quatro polícias. Quando desci a Avenida Fernão de Magalhães para ir comprar fruta, estavam junto ao Pingo Doce a mexer nos telemóveis. Se calhar andavam à procura dos homens maus nas redes sociais.

Campo 24 de Agosto

( Minoria )  Quinze ou vinte pessoas, quase só homens, a preparar a manifestação junto ao edifício da junta de freguesia do Bonfim.* Dois cartazes com frases estúpidas.  Seis polícias espalhados aos pares a conversar descontraidamente.   ( Maioria )  Na frutaria, uma fila enorme e pacífica de portugueses e imigrantes.  Imensas tangerinas doces. * Segundo o JN, a manifestação reuniu cerca de 30 pessoas .

Observações avulsas sobre o bonfim #67

Ao chegar ao Batalha por volta das cinco e meia, passaram por mim três homens a falar alto. Um deles disse: então andavam para aí com martelos e ferros e nós havíamos de nos ficar? Foi muito bem feito. Que vão para a terra deles. Parei e fiquei a olhar. Eles saíram de campo e então vi, em frente à Igreja de Santo Ildefonso, os polícias do Corpo de Intervenção destacados para o cortejo da Queima das Fitas.

Observações avulsas sobre o bonfim #66

A mulher que costuma vender 5 pares de meias por 5 euros junto à paragem de autocarros do Campo de Agosto aos sábados de manhã percebe muito de comércio. Hoje, por causa da morrinha, vende guarda-chuvas. Apregoa «guarda-chuvas para a chu-va» partindo ao meio a palavra chuva e carregando no som grave. Está vestida de preto, mas por cima da roupa tem um avental cor-de-rosa com rendinhas. O avental cumpre dois papéis: confere-lhe imediatamente visibilidade e estatuto de vendedora e é uma caixa registadora portátil — serve para guardar o dinheiro no bolso (grande e ao centro) com fecho-éclair.

Observações avulsas sobre o bonfim #64

Mais, le lendemain matin.

Observações avulsas sobre o bonfim #63

 

Observações avulsas sobre o bonfim #56

Ontem reabriu o Café Saudade. Na segunda-feira foi a frutaria que fica em frente e nem sequer tem nome na montra. Juntamente com a paragem C24A1 dos STCP, formam uma espécie de trindade identificária da zona (um enclave na marca Porto. ) Não é fácil definir as características deste lugar mas talvez se possa dizer, sem grandes preocupações, que é cosmopolita, não tanto pelos turistas, mas pelos imigrantes, pela diversidade de faixas etárias (muitos velhos e crianças), géneros sexuais e mentais, etc.; de certa forma corresponde a uma primeira página do Correio da Manhã ao vivo (na frutaria parece que andam todos — empregados e clientes — com uma navalha no bolso); e demonstra que o povo nunca deixou de existir, apenas já não pensa nas expectativas. Um outro tipo de Bartleby.

Observações avulsas sobre o bonfim #51

Nas freguesias mais orientais há cada vez mais imigrantes. Cruzo-me com eles no metro e autocarros, supermercados e ruas. Não têm muito dinheiro — nota-se —; são novos e bonitos. É o Porto cosmopolita que não vem nas revistas e o resto da cidade desconhece. Talvez tragam com eles a mudança necessária.

Observações avulsas sobre o bonfim #50

 

Observações avulsas sobre o bonfim #45

Ao passar pelo Minipreço de Barros Lima (uma das lojas mais nevrálgicas da zona), ocorreu-me que os poetas já não vivem por cima do Minipreço . A frase podia ser o título de uma tese bastante estrábica sobre os caminhos (mansos?) da poesia contemporânea, ou sobre a estratificação social das cidades, ou sobre o comércio em geral.

Observações avulsas sobre o bonfim #31

 

Observações avulsas sobre o bonfim #30

 

Observações avulsas sobre o bonfim #29

 Amor, mágoa e uma faca.