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Luísa Costa Gomes confessou que a peça de Kleist desencadeou nela “qualquer coisa” que não é “capaz de explicar”. Em que consistia, ou como se manifestou? “Achei que deveria ser eu a traduzir, a fazer a dramaturgia, a encenar e — se não me tivessem segurado – teria provavelmente feito o papel do Príncipe.”  Isto é mais ou menos a definição de síndroma. Síndroma de Homburgo.

Heinrich von Kleist

Cioran tem uma pancada por Kleist (é fácil de perceber porquê); escreve muitas vezes sobre ele nos  Cadernos . Ainda vou em 1964 e já traduzi três notas (até ao final há mais quatro):  Tento reler Faust , depois de mais de trinta anos. Sempre a mesma impossibilidade: não entro no mundo de Goethe. Só gosto de escritores doentes, afectados de uma forma ou de outra. Para mim, Goethe continua frio e rígido, alguém a quem não pensamos recorrer num momento de aflição. Não é dele, é de um Kleist que nos sentimos mais próximos. Uma vida sem fracassos consideráveis, misteriosos ou suspeitos pouco nos seduz.  Nos últimos dias tenho lido os contos de Kleist. São belos; mas é o seu suicídio que lhes dá uma dimensão que de outro modo não teriam. Porque é impossível ler uma linha de Kleist sem pensar que ele se matou. O seu Freitod  (suicídio) confunde-se com a sua vida, como se se tivesse suicidado o tempo todo.  Ontem li Heinrich von Kleists Lebenspuren — um livro que contém todos os documentos q

Estanha Profecia e Outros Textos

«Entre o início de Outubro de 1810 e o final de Março de 1811, Heinrich von Kleist organizou e editou um dos primeiros jornais diários da cidade de Berlim, o vespertino Berliner Abendblätter  (...).»   Assumindo um cariz intencionalmente sensacionalista, Kleist preenche os espaços livres do jornal, os que ficavam no final das colunas de texto dos artigos e dos textos de maior dimensão, com pequenas histórias, relatos de episódios do quotidiano, anedotas, relatórios da polícia de Berlim, relatos de ocorrências estranhas, críticas, opiniões...

O coração contrai-se

Qualquer trabalho usa o instrumento, polir lentes estraga os olhos, extrair carvão, os pulmões, etc. E quando nos dedicamos à literatura o coração contrai-se. Uma coisa vale a outra. Será preciso embalsamar as nossas forças para as enterrar vivas connosco? De modo nenhum. Nós devemos servir-nos delas. Uma vez mortas, cumpriram o seu dever. "A vida não vale nada se a estimarmos." Ela já está morta se não estivermos sempre dispostos a sacrificá-la. Heinrich von Kleist, carta de 20 de Julho de 1805, dirigida a Maria von Kleist (sua prima). Citada por Maria Filomena Molder, na folha de sala de O Duelo .

Quando, subitamente

O Duque Guilherme de Breysach, que vivia em inimizade com o seu meio‐irmão, o Conde Jacob, o Barba‐Ruiva, desde que se unira em segredo a uma Condessa, de nome Catarina de Heersbruck, da casa Alt‐Hüningen, na aparência abaixo da sua estirpe, regressava, estávamos nos finais do século catorze, quando a noite de S. Remígio começava a cair, de uma reunião mantida com o Imperador alemão em Worms, durante a qual havia conseguido desse Senhor, por falta de filhos legítimos, entretanto mortos, a legitimação de um filho natural, gerado com a sua esposa antes do casamento, o Conde Filipe de Hüningen. Mais feliz na antevisão do futuro do que alguma vez estivera no decurso inteiro do seu reinado, havia alcançado já o parque que ficava atrás do seu palácio: quando, subitamente, uma flecha irrompeu do negrume por entre os arbustos e lhe trespassou a carne, mesmo abaixo do esterno. (...)  O Duelo, de Heinrich von Kleist. Tradução de Maria Filomena Molder. Aqui e aqui .

Nem um sopro de vida

As minhas ideias políticas mais importantes vêm de textos e filmes clássicos (Sófocles, John Ford, Kleist, Büchner, por aí fora), de um filme de Buñuel, do livro do Genet sobre Giacometti e, se não me engano, d’ O Sobrinho de Wittgenstein. Passo os olhos pelos programas eleitorais (não os consigo ler na íntegra); parecem chicletes velhas.