Em 1965, Cioran escreve nos seus Cadernos : “Ai terminé un article contre le christianisme. Comme toujours je finis par épouser la cause que j’ai violemment attaquée, et je passe dans le camp adverse”. (Terminei um artigo contra o cristianismo. Como sempre, acabo por aderir à causa que violentamente ataquei e passo para o campo adversário.) A falta do pronome pessoal pode ser distracção ou gralha, mas não acredito nisso. Para além do cristianismo, Cioran também está contra o francês: Em luta com a língua francesa: uma agonia no verdadeiro sentido da palavra, uma luta onde fico sempre por baixo. Contra a gramática: Um profeta fulminado pela gramática. E, acima de tudo, contra o “eu”: O eu é uma ferida aberta.
de Cristina Fernandes e Rui Manuel Amaral