Pierre Assouline: Foi a leitura do Cioran que o acalmou? Jean-Luc Godard: Ela corresponde à minha queda para o aforismo, a síntese, os provérbios. Este gosto talvez me venha das fórmulas científicas. O aforismo resume qualquer coisa mas permite outros desenvolvimentos. Como um nó: pode ser feito em vários sentidos, não impede que quando é feito, o sapato fique preso. Não é um pensamento, mas um traço do pensamento. E Cioran, leio-o sempre em todos os sentidos. É muito bem escrito. Com ele, o espírito transforma a matéria. Cioran dá-me uma matéria que alimenta o espírito. PA: Mas o que o atrai tanto nos aforismos? JLG: O seu lado de átrio de estação central. Entramos, saímos, voltamos. Se encontrarmos um bom pensamento, podemos permanecer nele muito tempo. Depois levamo-lo connosco. Não é preciso ler tudo. Pessoa, de quem também gosto muito, é demasiado negro enquanto Cioran ajuda a viver. É uma forma de pensamento diferente do pensamento com começo, meio e fim. Não conta...