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O pensamento mágico do capitalismo

O abismo cognitivo foi instalado quando todos nós vimos que as coisas podem ser reproduzidas em série e que a caixinha do leite ou qualquer outro produto que está na gôndola do supermercado, aquela coisa apareceu ali (…) e não importa mais o processo. Então a caixinha de leite e toda essa facilidade da gôndola seriam coisas que aparecem na sua cara e você pode simplesmente consumir. É isso que o Davi Kopenawa Yanomami, nessa sua prospecção do mundo do branco que ele olha de dentro da floresta, dirá que é o ‘mundo da mercadoria’. Vamos imaginar que esse mundo da mercadoria é mágico. Ele faz aparecer água na torneira, leite na caixinha e coisas na gôndola. Quer dizer, é um pensamento mágico o desse mundo subalterno à ordem capitalista. É tão mágico quanto o pensamento de um xamã. O pensamento mágico de um escravo do capitalismo é tão fantástico que ele acredita que o capitalismo pode acabar com o mundo e criar outro. Eu me pergunto: por que um cara vai financiar o envio de um foguete par...

Alguns dizem que não há mundo fora do capitalismo

Eduardo Viveiros de Castro: Todas as nossas liberdades, de ir e vir, de viajar, de não precisar de lavar roupa à mão, estão assentes numa economia de combustíveis fósseis. Isso explica muito da hesitação do pensamento clássico de esquerda de considerar a catástrofe ecológica como uma questão crucial e perceber que a justiça social e a justiça ambiental são a mesma coisa. Sempre houve no pensamento progressista a ideia de que a dominação do homem pelo homem, como se dizia, só acabará quando o homem dominar completamente a natureza, que sempre foi o projecto da modernidade. Déborah Danowski: O contraponto disso é achar que nós só nos devemos preocupar com as questões ecológicas depois de resolvermos os problemas do homem, a pobreza. E.V.C.: Há uma famosa frase do Aristóteles que está no fundo disso, que era ele justificando a escravidão em Atenas, dizendo que o dia em que os fusos trabalharem sozinhos já não precisaremos de escravos. Como fazer isso? A tecnologia, um dia, vai-nos livra...

Mercado regulado

Nos Estados Unidos, um bando de malucos fortemente armado e encorajado pelo presidente, invade o Capitólio, mata polícias, pilha e parte tudo o que encontra pela frente. Na Rússia, o CEO de uma empresa privada de guerra, cujo principal cliente é o Estado, ameaça marchar com os seus colaboradores até Moscovo, numa espécie de operação comercial falhada e sem consequências. Conclusão: o capitalismo russo é mais ordeiro.

Avisem os «criativos»

(...) In his view, this is perfectly natural, since “creativity” was an economic, not aesthetic, notion to begin with. “The concept of creativity,” he concludes, “never actually existed outside of capitalism.”

Black Friday

Lembro-me muitas vezes daquela história do Picabia sobre o homem que mastigava um revólver. O homem já era velho e tinha dedicado a vida inteira a mastigar o revólver. Se parasse um só instante, a arma dispararia e era o fim. O capitalismo é este velho.

Alternativos e independentes

Já lá vai uma geração desde o colapso do Muro de Berlim. Nas décadas de 1960 e 1970, o capitalismo teve de se confrontar com o problema de como controlar e absorver as energias vindas do exterior. Hoje em dia, o capitalismo depara, aliás, com o problema oposto; tendo incorporado com demasiado sucesso a externalidade, como poderá funcionar sem um exterior que possa colonizar e do qual possa apropriar-se. (...) Veja-se, por exemplo, o estabelecimento de zonas culturais «alternativas» ou «independentes» estáveis, que repetem infindavelmente gestos mais antigos de rebelião e contestação como se pela primeira vez. «Alternativo» e «independente» não designam algo exterior à cultura dominante; ao invés, são estilos, os verdadeiros estilos principais, aliás, no seio da cultura dominante. Mark Fisher, Realismo Capitalista - Não haverá alternativa? Tradução de Vasco Gato.

A banana imanente

É através dos símbolos e não da economia que chegamos ao centro nevrálgico do “capitalismo”. Aqui nada é literal; tudo o que dizemos é uma metáfora, tudo em que tocamos é sempre algo que representa outra coisa . O caso mais recente é a banana de Maurizio Cattelan. O que aconteceu na feira de arte contemporânea Art Basel de Miami é revelador da transformação do sistema económico numa teoria unificadora: colar uma banana à parede; vendê-la por 120 mil dólares, comê-la e dizer que é uma performance ( chama-se “Artista com fome”). Mas o melhor está exposto neste parágrafo: O encarregado das relações com museus da Galerie Perrotin, Lucien Terras, explica que o acto não diminui o valor da obra. “Ele não destruiu a obra de arte. A banana é a ideia”, disse Terras em declarações ao jornal Miami Herald. A banana em exposição não é eterna, sendo regularmente substituída. E por isso, mais tarde, o director da galeria, Emmanuel Perrotin, montou de novo a obra de arte de Cattelan nas pare...