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Jesus

Primeira sequência de Fairytale . Jesus e Estaline repousam lado a lado, num canto do purgatório. Estaline deitado no meio de uma montanha de rosas, Jesus num catre de pau tosco. Ambos aguardam que Deus decida o destino de cada um. O ditador levanta-se e caminha, mas o Salvador, de ar débil e abatido, não consegue mexer-se. «Dói-me tudo», diz ele, numa voz abafada de tísico. O filho de Deus Pai, de Aleksandr Sokurov, parece tirado a papel químico do Jesus imaginado por Oscar Panizza, o personagem mais triste e patético de O Concílio do Amor. JESUS (estremecendo) Pois é — e com isso, nós é que vamos ficando cada vez mais miseráveis, cada vez mais fracos! Que coisa horrível! (Tosse.) A mim comem-me, e assim se vêem livres da doença e do pecado! Ao passo que nós caminhamos progressivamente para o declínio. Começam, primeiro, por se encherem de pecados até mais não poder, e a seguir ingerem a minha carne e ficam curados, inocentes, gordos e anafados — enquanto nós para aqui estamos magros ...

Mais adiante!

É nas últimas sequências do filme de Aleksandr Sokurov que Fausto  revela toda a amplitude do seu incontrolável desejo de superação. Nada é suficiente, nada o satisfaz, «fervilha nele a febre da distância» (Goethe, v. 303). MEFISTÓFELES (Mauricius): Fizemos um pacto. Eu fiz tudo o que prometi, mas tu… FAUSTO: Não é suficiente para mim. Valho mais do que isso. MEFISTÓFELES: Que mais queres? Outro sol? Outro homúnculo? Dois, talvez? FAUSTO: Não é suficiente para mim! A ambição de Fausto não conhece limites. O Diabo é apenas um instrumento — como, de resto, também Margarida — da cega avidez deste «pequeno deus do mundo». Na verdade, Fausto assassina o Diabo, lapidando-o: o símbolo máximo do pecado morre sob as pedras lançadas pelo maior dos pecadores. A sequência anterior ao assassínio de Mefistófeles, junta os dois personagens diante de um géiser. É o momento crucial do filme. O ponto onde o velho mundo e a modernidade se separam irremediavelmente. Onde acaba o mistério e c...