Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens com a etiqueta Bruno Schulz

A palavra retoma consciência

Ao utilizarmos as palavras correntes esquecemo-nos de que são fragmentos de histórias remotas e eternas, e que construímos - como os antigos - a nossa casa com estilhaços das estátuas dos deuses. Os nossos conceitos e termos mais concretos são derivações muito remotas dos mitos e das histórias antigas. Não há um único átomo nas nossas ideias que não provenha daí, que não seja uma mitologia transformada, estropiada ou alterada. (...) A poesia reconhece o sentido perdido, restitui as palavras ao seu lugar, enlaça-as de acordo com certos significados. Manejada por um poeta, a palavra retoma consciência, digamos assim, do seu sentido primevo, desabrocha espontaneamente segundo as suas próprias leis, recupera a sua integridade. Bruno Schulz, A mitificação da realidade . Tradução de Patrícia Guerreiro Nunes.

O texto certo

É o que nos diz a história canónica. Mas a história oficial é incompleta. Tem lacunas propositadas, longos intervalos e reticências nas quais logo se instala a Primavera. Ela cobre rapidamente as lacunas com a sua marginália, paga um preço exagerado com a folhagem que cai em abundância, que cresce desafiante, que engana com os disparates dos pássaros, com a disputa desses seres alados, cheia de contradições e mentiras, perguntas ingénuas sem resposta, repetições contumazes e pretensiosas. É preciso muita paciência para encontrar o texto certo no meio dessa lengalenga. Bruno Schulz, Sanatório sob o signo da clepsidra . Tradução de Henryk Siewierski.